terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Under the Tree (Undir Trénu)

"A Sombra da Árvore" (2017) dirigido pelo islandês Hafsteinn Gunnar Sigurðsson (Paris do Norte - 2014) retrata situações embaraçosas e falhas de caráter, imperfeições desconcertantes que nos leva a refletir nas relações do dia a dia, no convívio com os familiares, vizinhos e colegas, quando pequenas coisas se tornam desavenças e por muito pouco explodem e se transformam em tragédias, os absurdos cotidianos estão espalhados por aí e o filme é sagaz ao expô-lo com muito humor negro.
Depois de ser expulso de casa e impedido de ver a filha, Atli (Steinþór Hróar Steinþórsson) volta a morar com seus pais, que estão envolvidos em uma disputa em torno de uma grande e bela árvore que faz sombra no deque do vizinho. Enquanto Atli luta pelo direito de ver sua filha, a rivalidade com os vizinhos se intensifica — propriedades são danificadas, animais de estimação desaparecem misteriosamente, câmeras de segurança são instaladas e há um boato de que o vizinho foi visto com uma motosserra.
O constrangimento faz parte de toda a trama, logo no início vemos Agnes (Lára Jóhanna Jónsdóttir), a esposa de Atli o flagrando vendo um filme pornô e do qual ele é o protagonista, posto pra fora de casa e impedido de ver a filha volta para a casa dos pais, que estão em conflito com os vizinhos por conta da árvore, no começo Baldvin (Sigurður Sigurjónsson), o pai de Atli promete podá-la, mas no decorrer vão acontecendo algumas coisas que faz com que mude de ideia, o comportamento da mãe de Atli, Inga (Edda Björgvinsdóttir), se torna insustentável, cada vez mais rancorosa transforma o convívio impossível, entre agressões verbais, pneus furados, anões de jardim em poses indiscretas e animais que somem, somos conduzidos por mal-entendidos e confusões sem sentido, onde cada um pensa ter a razão, até tentamos entender as partes, mas os seres humanos retratados são mesquinhos, egoístas e sem nenhuma espécie de empatia, a angústia, o sofrimento os tornaram insensíveis.
Inga nega a morte do filho e remói isso dentro de si, se culpa e culpa os outros, cultiva sentimentos ruins e desconta da forma mais perversa, Atli é mentiroso, prepotente e machista, não vê o lado de sua esposa e todas as tentativas de aproximação são abusivas, sem nem um sinal de arrependimento ou empatia. Agindo irracionalmente tenta ver sua filha e para piorar se instala numa cabana no jardim da casa dos pais para vigiar a árvore, pois o vizinho tirou uma motosserra do carro, é engraçado que eles nunca pensam que estão cometendo absurdos, desesperados continuam e persistem em suas teorias, até que foge do controle total e o que sobra não é nada agradável. 

A insensatez é retratada de forma provocativa e trágica, uma crítica ao quanto a natureza humana tende a ser mesquinha e ter como certo apenas o próprio ponto de vista, de que apenas o outro tem defeitos e age como idiota, quem se sujeita a tais atos, como os retratados no filme, discutir por sombra de árvore ou que o cachorro defeca em sua grama está fechado em uma bolha e é incapaz de olhar para si e admitir os seus erros, e outro ponto é que descontar mágoa, frustração e sofrimento nos outros, como Inga, só faz cultivá-los ainda mais e elimina a chance de reflexão. 

"A Sombra da Árvore" desconcerta por apresentar pessoas que por ignorância e estupidez não se comunicam e tiram suas próprias conclusões, dificultando soluções e convertendo trivialidades em possíveis tragédias; a intolerância, o egoísmo, a mesquinhez, a prepotência e a impaciência é extremamente bem delineada na história e por mais descabida e risível que aparenta ser não destoa da realidade cotidiana.

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