quarta-feira, 29 de novembro de 2017

The Square

"O Quadrado é um santuário de confiança e cuidado. Dentro dele, todos compartilhamos direitos e obrigações iguais."

"The Square" (2017) dirigido por Ruben Östlund (Força Maior - 2014) é um filme que expõe uma perspectiva crítica à elite cultural europeia, em especial, a sueca, e disserta o como a arte vem sido repelida ao invés de provocar curiosidade, questões como os limites e o vazio das obras, há uma crise dentro desse universo e mesmo que a história gire em torno da sociedade europeia, percebemos que o sentido da arte contemporânea anda sendo questionado no mundo todo, além disso coloca em ênfase a contradição, enquanto uma obra em exposição sugere solidariedade, colaboração e empatia, os atos são completamente opostos, onde retrata uma população solitária, vazia e sem qualquer traço de cuidado com o outro. A medida que o filme avança vamos somando itens e refletindo sobre eles, a cada cena sugere-se mais de um significado.
Christian (Claes Bang), curador de um museu está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação. Entre as tentativas para isso, ele decide contratar uma empresa de relações públicas para fazer barulho em torno do assunto na mídia em geral. Mas, inesperadamente, isso acaba gerando diversas consequências infelizes e um grande embaraço. As situações vão se costurando, enquanto está rolando a polêmica divulgação da nova obra, Christian está interessado mais em recuperar seus pertences roubados, o que demonstra todo o seu egoísmo e seu ar de superioridade, as discussões morais que se sucedem revelam o absurdo e a todo instante ele é confrontado pelos valores que defende. Há uma gama de assuntos permeados por um humor desconfortável, pois revela a hipocrisia do politicamente correto, onde pregam o amor e disseminam descaso, diálogos sobre solidariedade ao mesmo tempo que passam por mendigos, no caso, imigrantes, que são invisíveis ou alvos de preconceito por essa mesma elite que engana com supostos trabalhos sociais. Christian não é um ser humano execrável, mas acompanhamos toda a fragilidade que existe nessa teoria do ajudar, ao mesmo tempo que demonstra o outro lado, a vítima abusando por perceber o medo nas pessoas. 
O filme segue como uma série de episódios e possui sequências fantásticas, como a da apresentação do homem que imita um gorila, interpretado magistralmente por Terry Notary - especialista nessa habilidade corporal, ele caminha por um salão requintado repleto de conhecedores da arte e filantropos, a performance é violenta, assustadora, o comportamento dele depende do como reagem, essa cena foi inspirada em uma performance de 1996 do russo Oleg Kulik em Estocolmo, que incorporando um cachorro agia conforme o público reagia a ele, claro que essa extravagância não acabou bem, assim como no filme.

Tudo que está sendo exposto pode ser considerado arte, inovação, metáfora, símbolos para as angústias, crises e vazios da atualidade? A arte é desprezada pela população comum, não há interesse em algo que não foi feito para compreender, parece alimentar apenas um grupo de pessoas, um nicho que se finge de culto para parecer superior aos demais. O monte de cascalho sendo varrido pelo faxineiro por confundir com sujeira - também inspirado em casos reais - é a demonstração da irrelevância da obra, não há substância, verdade, apenas ilusão, interesses, e poder. A preocupação social que essa elite demonstra é puro fingimento, não passa de palavras e passatempo.
Christian por conta do desencadeamento do roubo dos seus pertences e sua ideia para tê-los de volta passa por momentos que o aproximam da realidade, o garoto que vai atrás dele por se sentir rebaixado e para que ele peça desculpa pelo mal-entendido é apenas uma das circunstâncias embaraçosas do emaranhado social e que não chega nem próximo dessas teorias de politicamente correto e ideias de amor ao próximo.

O filme joga variadas cartas políticas e sociais recheadas de referências e o espectador vai juntando-as e criando uma ampla rede de reflexão. Ruben Östlund exibe sua genialidade ao caminhar entre muitos tipos de conhecimentos, cinema, fotografia, música, arte, crítica social, o que gera um aglomerado de situações que nem sempre se conectam, mas que abrem um leque de interpretações.
"The Square" reflete a dificuldade de se agir conforme os próprios valores, além de questionar os limites e o valor da arte na sociedade, o como ela está fechada em conceitos e passando longe da realidade, essa que os artistas dizem representar em suas obras; os excessos absurdos do marketing nas redes sociais, o vazio, o comodismo que a condição social produz, o egocentrismo, relações distantes e sem valor. São inúmeras as camadas, é um filme que pede revisão, certamente cada vez agregando e produzindo reflexão. 

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