quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Vovó Está Dançando na Mesa (Granny's Dancing on the Table)

"Vovó Está Dançando na Mesa" (2015) dirigido pela sueca Hanna Sköld (Velhos Asquerosos- 2009, primeiro filme livre, produzido sob a licença Creative Commons, sua estreia ocorreu no The Pirate Bay) é um filme que mescla live-action e o stop-motion, uma junção bastante interessante e ousada dentro do contexto pesado e doloroso do longa, que foi produzido por uma campanha no Kickstarter. O stop-motion é utilizado para contar o passado, ele é todo narrado pela protagonista que não articula nenhuma palavra em seu cotidiano, nem um mínimo som, apavorante acompanhar seu monótono dia a dia. Eini (Blanka Engström) é uma jovem garota de 13 anos que vive nas profundezas das florestas suecas com seu pai (Lennart Jähkel). Porém, a morada na natureza não é um refúgio, mas sim um pesadelo, já que o pai de Eini é um feroz maníaco controlador e um fanático religioso que regularmente conta os poucos bens da casa para descobrir as infrações de Eini. Em meio a esse caos, a garota encontra na remota figura da avó, além de sua própria imaginação uma importância quase mítica, tanto como símbolo de liberdade, quanto razão para o seu atual sofrimento e que permitem que ela crie um mundo interior e encontre força para sobreviver.
Eini segue uma série de regras rígidas, o pai é violento e o menor deslize seja ele de qualquer natureza gera punição à menina, são cenas tensas, por exemplo, na contagem dos utensílios da cozinha, onde o silêncio sufoca e deixa-nos esperando pelo pior. O clima de opressão pesa, só quando o pai sai para buscar alimentos, Eini tem lampejos de vida, ao encontrar um rádio, ao passear pela floresta, vestir outras roupas e ao recorrer a sua imaginação para relembrar a sua infância ao lado da avó. A história de sua avó e de sua mãe é contada por Eini, os únicos momentos em que escutamos sua voz, a técnica do stop-motion nos conduz para uma fábula rude e perturbadora, que retrata um histórico de violência e submissão. São retratados duas figuras femininas opostas, a avó de Eini junto à irmã que precisa se mudar para a casa de um homem rico, este que se mostra abusivo e opressor, a avó de Eini vai embora depois de dar à luz e segue sua vida na cidade grande. O pai de Eini então é criado por esse homem violento, o menino presencia agressões e acredita que não há outro modo de vida, ele perpetua esse gesto na criação de sua filha, a afastando do mundo civilizado e sob muita opressão e abuso. 

O desconforto na interação entre pai e filha é extremo, é triste toda a situação, a menina não tem vida nos olhos, nos perguntamos porquê não foge, mas com o desenrolar percebemos que aquela é a única vida que conhece até então, e sim, ela quer sair desse ambiente claustrofóbico, mas, infelizmente, não sabe como, em outros momentos adentramos em seus desejos profundos, onde ela sonha em arrancar a própria mão, um sinal de que ela quer uma mudança. Isso tudo acontece aliado a sua transição, o despertar sexual, o que lhe dá mais impulso para deixar e acabar com essa vida.
O filme vai alternando entre o cotidiano de Eini com as passagens em stop-motion retratando a história da avó e de sua mãe e, que inclusive, são muito perturbadoras, desde o estilo dos bonecos à carga da história, de toda a violência e visão estreita que o jovem presenciou e então reproduz mais tarde com Eini. Há algumas cenas contrastantes com o ritmo do filme, o que causa agonia e revolta, a violência e o silêncio incomoda e esperamos demais que esse ciclo se rompa.

Triste e incômodo, mas extremamente necessário, "Vovó Está Dançando na Mesa" toca num assunto importante, o abuso e violência passada de geração em geração. A perspectiva dura do filme serve para provocar, pois só com elucidação, conhecimento que esse tipo de mentalidade pode ser rompida e eliminada da sociedade.

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