quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Fatima

"Fatima" (2015) dirigido por Philippe Faucon (A Desintegração - 2011) expõe um delicado retrato de uma mãe que tenta se adaptar a uma cultura diferente e ultrapassar as barreiras do idioma, além de se desdobrar em serviços de doméstica para garantir o sustento e um futuro digno para suas filhas.
Fatima vive com as duas filhas, Souad, uma adolescente rebelde, e Nesrine, que está prestes a começar a estudar na escola de medicina. Fatima não fala bem o francês, o que a frustra em sua relação cotidiana com as filhas. Ao mesmo tempo, elas são a sua motivação e orgulho, mas também fonte de preocupação. Para garantir às meninas o melhor futuro possível, Fatima trabalha de modo irregular como doméstica. Um dia, ela se acidenta. Enquanto está fora do trabalho, ela começa a escrever textos em árabe para as filhas, dizendo-as tudo o que ela nunca foi capaz de expressar em francês.
Inspirado pelos escritos da poeta argelina Fatima Elayoubi, que chegou a França sem saber ler e nem escrever e que obteve uma dura adaptação. No filme Fatima é interpretada por Soria Zeroual, uma mulher que luta para se adaptar ao país e aos costumes, a relação com as filhas se torna difícil por ela não conseguir se expressar em francês, as meninas nasceram lá, portanto, há um choque imenso na convivência, porém Fátima quer que as filhas estudem para terem um futuro, diferente dela que precisa se submeter a empregos que sugam a sua saúde. A filha mais nova, Souad (Kenza Noah) é rebelde e não gosta de estudar, é sempre ríspida com Fatima e não percebe o esforço que faz para mantê-las. Nesrine (Zita Hanrot) está entrando para a faculdade e pretende ser médica, Fatima para vê-la conseguir realizar isso trabalha pesado, são muitos os custos e o pai das meninas parece não ajudar em nada, o vemos esporadicamente visitando-as, ele tem uma nova família e apesar do carinho que demonstra é distante. Fatima acaba por se tornar ausente das meninas devido a carga horária de trabalho, e principalmente Souad se sente sozinha, a comunicação entre elas é precária, quando Fatima vai à escola para saber do desempenho da filha não consegue compreender, isso só gera ainda mais revolta na filha, que num diálogo despeja palavras grosseiras à mãe. Fatima entende muito bem o que acontece ao seu redor, mas por conta da língua se torna passiva.
Nesrine sabe que precisa estudar bastante para passar na faculdade, a pressão e a ansiedade a tomam por completo, ela nega todas as diversões da juventude para se concentrar. Vemos alguns momentos bonitos entre ela e sua mãe, Nesrine ao contrário de Souad tem afeto e sabe do empenho e zelo de Fatima, que abdica de sua própria vida em prol das filhas.

Em determinado momento Fatima sofre uma queda e fica impossibilitada de trabalhar, nesse período em que frequenta uma médica que fala árabe e que entende não só a sua dor física, mas também a emocional, revela detalhes importantes sobre como se sente por não conseguir se comunicar com as filhas, a figura da Fatima passiva e insegura se desfaz ao falar em sua língua materna, ela lê um pedaço de uma carta para a doutora e vemos como essa incomunicabilidade impossibilita de ser ela mesma, e de ter a sua dignidade.
Devido a incapacidade de falar o que sente com propriedade, Fatima escreve em seus diários, a integração com a cultura é difícil, o trabalho como doméstica é depreciado e quase sempre tem que conviver com preconceitos, como quando encontra dinheiro no bolso de uma calça e devolve à patroa, Fatima depois diz que ela sabia que a mulher queria testá-la. 

"Fatima" é apenas um recorte de tantas outras vidas que imigram para França e que dia após dia buscam um lugar para si e sonham com condições de igualdade.
Verdadeiro, simples, emocionante, é um filme que causa empatia, Fatima é um exemplo de força e coragem, geralmente as Fatimas são invisíveis na sociedade, mas como ela própria diz, tenha orgulho das Fatimas.

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