segunda-feira, 18 de julho de 2016

Demon

"Demon" (2015) dirigido pelo polonês Marcin Wrona (O Batismo - 2010), que infelizmente suicidou-se em setembro do ano passado, é um filme de terror psicológico que mescla comédia e crítica social, um exemplar rico em sua narrativa e que impressiona pela atuação do protagonista vivido por Itay Tiran. 
Piotr veio da Inglaterra para se casar com a bela Zaneta (Agnieszka Zulewska) e morar na casa do avô da moça numa pequena cidade da Polônia. Os familiares não o conhecem direito, porém ele se mostra um cara sério. Mas ao escavar o quintal da casa, descobre sem querer, uma cova com um esqueleto, daí ele começa a sofrer algumas alucinações e seu comportamento vai se modificando, culminando em crises estranhíssimas em plena festa de casamento.
O filme abre um leque de questões e joga com metáforas, ele penetra em velhas feridas do país, brinca com costumes e tradições. A lenda do dybbuk - um espírito humano que vagueia incansavelmente até encontrar refúgio em um vivo para poder expiar seus pecados, é explorado e o velho professor afirma que Piotr está tomado por um dybbuk. Tudo acontece durante a festa, ele enxerga o fantasma de uma mulher e entra em transe, começa a suar, ter loucas atitudes e some. Enquanto isso, o pai da noiva entope os convidados de vodca e música alta, os deslocando de ambiente em ambiente devido as circunstâncias, realmente uma catástrofe bem engraçada, mas sem deixar o terror psicológico de lado. Cria-se uma tensão gigantesca em torno disso e a comédia só acentua a aura desesperadora. A sátira cultural é intensa e o terror deste filme não é nada comparado ao convencional, ele serve de reflexão e para lembrar que os fantasmas do passado estão por aí, pois o horror vivido não pode ser esquecido. Em dado momento o pai de Zaneta diz que o país foi construído em cima de cadáveres, dado o passado da Polônia que todos sabemos. 
"Demon" permite algumas interpretações, sendo tanto religiosa, como sobrenatural ou social, vários diálogos passeiam por esses temas e cabe ao espectador decifrá-los e entendê-los. Realmente em algumas partes o diretor coloca o dedo na ferida, o lugar, a comunidade que antigamente era um espaço em que viviam judeus e católicos. 
A interpretação de Itay Tiran é sensacional, ele segura perfeitamente o clima claustrofóbico, e suas performances são o ponto alto do longa. De bom moço a possuído, os familiares não sabem o que fazer e para mascarar a situação bebem e dançam feito loucos, algumas figuras se sobressaem nesse ambiente, como o médico que bebe escondido, o ateu que propõe o exorcismo a um padre, que não está dando a mínima e só quer ir embora. 

A trilha sonora composta pelo mestre Krzysztof Penderecki só faz ressaltar o crescente suspense com violinos estridentes. Algumas respostas não vêm sobre o mistério envolvendo a família de Zaneta e o espírito da mulher, é deveras emblemático e repleto de significados.
A mistura de gêneros é hábil, passa pelo drama, comédia satírica e terror sem cair em nenhum momento, a atmosfera caótica assemelha-se a um pesadelo interminável. São situações malucas, mas que mexem muito com nosso psicológico. O terror tem muitas faces e as pessoas o encaram de diversas formas, mas não há nada mais arrepiante e perturbador do que um clima caótico retratado com uma ironia pungente usando temas corrosivos.

"Demon" tem características interessantes e atuações magníficas, destacando além do protagonista possuído, o pai de Zaneta, que fica tentando camuflar a situação embebedando os convidados, que entram num frenesi absurdo e se transformam em mortos-vivos ao final.
 É um filme para sair do lugar comum e se deixar levar por um terror diferenciado que prima por uma aura satírica, mas sem deixar de ser crítico e com certeza aterrorizante dentro de sua proposta.

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