terça-feira, 5 de abril de 2016

Solidões

"Solidões" (2013) dirigido por Oswaldo Montenegro (Léo e Bia - 2010) é um filme que desperta emoções e demonstra variados lados da solidão. Realizado com recursos próprios e a Coprodução do Canal Brasil, o roteiro, a direção e a trilha são assinadas pelo artista. "Solidões" vai do riso ao drama, do musical ao documentário, da comédia romântica à sátira cruel, em várias histórias que se ligam, se encontram. Vanessa Giácomo, além de narrar o filme, interpreta uma mulher que perde a memória e rejeita sua vida anterior se recusando, a partir daí, a ter contato físico ou emocional com qualquer ser humano. Oswaldo Montenegro, no papel do "Demônio", enfrenta sua solidão andando pelo mundo, morrendo de saudade de Deus. Um diabo sádico, divertido, que sai por aí oferecendo infinitas possibilidades aos solitários, caso aceitem suas inusitadas condições e exigências. É um filme extremamente emocional e que ficará para sempre guardado na memória. O seu grande diferencial é misturar artes, gêneros e visões. A narração de Vanessa Giácomo é belíssima e nos toca profundamente, fazendo com que olhemos para dentro e percebamos que todos nós somos uma ilha. "Tudo na gente que não morreu, cercado por tudo que mataram, é uma ilha."
O filme é permeado por personagens interessantes, como o homem (Pedro Nercessian) que encontra com o seu próprio eu, Ronaldo (Eduardo Canto), um garçom colecionador de frases, precisa aguentar uma cliente embriagada (Kamila Pistori). Um músico do interior de Minas Gerais que vai tentar a sorte no Rio de Janeiro, o deficiente físico que tem o apelido de Chico Atrasado e sempre exagera as histórias que ouve, e a diretora de elenco (Madalena Salles), que fez o teste de seleção dos atores, passa por um curioso exercício de metalinguagem. Entre tantos outros e suas solidões.
O roteiro é delicioso, inteligente, filosófico, intimista e todo recheado de metáforas, algumas frases ficam gravadas, são verdadeiras pérolas de poesia, outras são irônicas e divertidas, como quando Oswaldo Montenegro aparece interpretando uma espécie de ladrão, conhecido como Demônio, e começa a dialogar com a personagem Mariana. Em dado momento ele diz: "Chocolate quente, licor e charuto. Essa sim é a santíssima trindade". Há muita ironia envolvendo a religião, tanto em diálogos como na trilha sonora. 
Do drama existencial ao humor inteligente, essa obra equilibra perfeitamente todos os gêneros que possui, todas as artes que apresenta, é uma mistura maravilhosa que só poderia ter saído da mente brilhante de Oswaldo Montenegro, ele é um virtuose em tudo que se propõe.

O filme desnuda a solidão, a expõe de todas as maneiras possíveis, reflete-se o que é a solidão para cada individuo, as partes em que há os depoimentos de pessoas comuns fica bem explícito o como cada um carrega a sua, umas com bom humor, outras com dor e pesar. A trilha sonora é linda e às vezes o filme até parece um grande clipe, mas nada que retire a sua beleza, aliás o que o torna tão especial é essa mistura, esse não se enquadrar em nenhum estilo. É sempre bom se deparar com filmes que fogem do mais do mesmo, de artistas que se arriscam, que trazem temas pertinentes e ousam em sua carreira.
"Solidões" é envolvente, inteligente e poético, é filme para almas sensíveis, para pessoas que não sentem medo de mergulhar profundo em si mesmas.

"A solidão é como um nome que se esquece, como um homem que envelhece, sem viver o que sonhou, é como um trânsito em plena madrugada, é o poeta na calçada que ninguém, nunca, escutou."

O filme está disponível no canal do Youtube de Oswaldo Montenegro. Clique aqui.

3 comentários:

  1. Eu tentei assistir "Léo e Bia" mas desisti. Não tive paciência, achei experimental demais.

    Abraço

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    Respostas
    1. Ainda não vi "Léo e Bia", e pela mesma razão, de achar experimental demais, só que depois de ver "Solidões" e "O Perfume da Memória" vou ter que conferir. Abraços!!

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