sábado, 16 de janeiro de 2016

Body (Cialo)

"Body" (2015) da polonesa Malgorzata Szumowska (W Imie - 2013) é um filme que a princípio pode causar um certo estranhamento em relação ao tema, mas é um sensível retrato do como as pessoas lidam de diferentes formas diante ao luto. A diretora utiliza também um tom cômico, mas o drama jamais perde sua força, as personagens são convincentes e geram bastante desconforto, é difícil encarar as suas dores.
Um perito criminal (Janusz Gajos) e sua filha (Justyna Suwala), que sofre de anorexia tentam lidar com a morte da pessoa mais próxima que eles tinham. Já no início percebemos o quão diferente é a sua abordagem, enquanto o perito examina o local que uma pessoa se enforcou, esta de repente se levanta e sai andando, deixando todos atônitos. É claro, precisa-se ter certo desprendimento e saber que o filme fala por meio de metáforas.
O espiritismo em certo ponto exerce grande influência sobre pai e filha, mesmo que ele seja cético se dá o direito de questionar algumas coisas, Anna (Maja Ostaszewska), a terapeuta de Olga, é médium, e é ela que vem para despertar nele sentimentos escondidos, Anna revela que a sua esposa tem uma mensagem pra ele e então o perito começa a perceber "sinais". Acostumado a lidar com corpos diariamente, é distante da filha que tenta chamar sua atenção provocando o vômito após ingerir comida, Olga é frágil, seus desabafos na terapia dilaceram nosso coração.
Anna é problemática, sozinha ela passa seus dias a cuidar das meninas anoréxicas e ajudar as pessoas que perderam seus entes queridos com mensagens psicografadas. Sua personagem poderia soar caricata, mas é de uma beleza delicada, parece perdida e se sustenta na sua crença. O filme mescla drama, comédia, crítica e sobrenatural de maneira envolvente, os sentimentos retratados são fortes e demonstram o como as pessoas lidam com a morte de forma muito pessoal. Mas a possibilidade de reorganizar a vida surge, incluindo reaver sentimentos e se reaproximar de quem também sente a dor.

A anorexia de Olga é a forma dela dizer que está sofrendo ao seu pai, ela demonstra pelo corpo o seu luto e a repulsa que sente por ele, que lida de forma fria em relação a morte. A cena de perícia no banheiro, onde encontra o corpo de uma criança exemplifica o quão blindado está. Porém, ele sofre também, mas em silêncio e bebendo cada vez mais. Já Anna tenta externar seu instinto materno com as garotas, a perda do filho ainda bebê a persegue e influencia no seu comportamento, essa tragédia a reprimiu, o modo como se veste e se comporta diz muito. É uma personagem complexa, interessante e que vê na mediunidade uma saída para si e para os outros.
O elenco está incrível, a entrega da estreante Justyna Suwała, as nuances de Maja Ostaszewska e o talento de Janusz Gajos conseguem extrair dessa história beleza, inteligência, comicidade e delicadeza.

Lá pelas tantas o Brasil é citado, Anna explica ao cético perito que o Brasil possui a maior comunidade espírita, com cerca de 2 milhões de seguidores, cita Divaldo Franco e diz ainda que aqui há menos indiferença à dor e ao sofrimento do que na Polônia.
"Body" é um filme curioso, a direção de Malgorzata é sublime, a narrativa impressionante ao abordar a morte e os reflexos do luto, e o final fecha com uma cena lindíssima, a fragilidade, os olhares compartilhados, as sutilezas de gestos, e o recomeço.

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