sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Uma Família de Tóquio (Tôkyô Kazoku)

"Uma Família de Tóquio" (2013) de Yôji Yamada (Chiisai Ouchi - 2014) é uma refilmagem do clássico cultuado "Era Uma Vez em Tóquio" (1953) de Yasujiro Ozu, na verdade é uma bela homenagem para celebrar os 50 anos da obra, e nessa versão atual Yamada consegue ser tão bom quanto, os conflitos familiares e a tradição foram atualizados e o que vemos é um lindo drama emocional repleto de simplicidade e reflexão.
Um casal idoso que mora em um vilarejo no Japão decide tomar um trem e visitar os filhos adultos em Tóquio. Chegando no local, eles descobrem que os filhos levam vidas muito ocupadas e diferentes das suas, e que não têm tempo para dedicar aos seus pais. Apenas uma morte trágica reunirá todos, permitindo que conversem e descubram porque se afastaram tanto uns dos outros. Logo no início acompanhamos a impaciência dos filhos em relação a chegada dos pais e então vamos aos poucos nos familiarizando com os personagens, o mais velho Koichi (Masahiko Nishimura) é médico e portanto tem pouco tempo, a sua mulher fica encarregada de acolhê-los o melhor possível, a outra filha, Shigeko (Tomoko Nakajima), que é cabeleireira e também não quer ter obrigações em um momento dá a ideia de colocá-los num hotel para poder dar seguimento a sua vida normal. O casal de idosos fica de lá pra cá e sentem pelo filho caçula, Shoji (Satoshi Tsumabuki), que aparentemente não tem rumo na vida.
Shukichi (Isao Hashizume) e Tomiko Hirayama (Kasuko Yoshiuki) são como um peso para eles, nas cenas o desconforto é aparente e conforme os dias vão passando isso tudo se torna bem triste, chega um ponto que o casal não quer perturbar mais os filhos e decidem se virar sozinhos, enquanto o pai vai na casa de um amigo e acaba num bar, a mãe vai na casa de Shoji, que se depara não com um filho bagunceiro, mas com um ser humano que se permite viver e amar, inclusive o dia mais lindo para Tomiko é este, pois conhece Noriko (Yû Aoi), a namorada de Shoji.
O filme promove a reflexão sobre o papel de cada um dentro da família, assim como as expectativas que os pais depositam nos filhos, e também quando estes constroem suas próprias famílias os deixando de lado. Aonde é que os pais se encaixam diante a uma vida corrida em que não há tempo para sentar, conversar e até sentir carinho? Dissertando sobre valores, como lealdade, honra, respeito, o contraste de gerações e a perda de tradições na atualidade, acabamos por olhar para nós mesmos e nos perguntarmos qual o papel que exercemos na nossa família.

Sensível em questionar uma sociedade que não acolhe seus idosos, os dois parecem não ser dali, não há mais os ensinamentos e as tradições, como a dedicação pela família, assim como Tomiko nos mostra, tudo é muito ágil, as pessoas só pensam em trabalhar para poder comprar e a falta de tempo acaba destruindo grande parte destes valores. O tema do filme é universal, pois no cerne as famílias são todas iguais, o conflito geracional, de valores, a perca de intimidade devido a distância, etc...
Dotado de delicadeza, o casal protagonista carrega uma doçura ao mesmo tempo que uma rigidez. Imergimos em cenas cotidianas simples e carregadas de questionamentos. Uma linda homenagem de Yamada ao valoroso clássico de Ozu, que retrata as consequências da velhice e no como as relações se perdem independente de laços familiares. 

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