sábado, 18 de julho de 2015

Casa Grande

"Casa Grande" (2014) de Fellipe Barbosa é um filme nacional que foge dos padrões e discute um tema interessante, uma família da alta sociedade secretamente falida que tenta se esquivar de transtornos para manter as aparências. Durante o filme é colocado em pauta diversos assuntos e por mais que alguns diálogos sejam didáticos, ainda sim vale a pena, pois proporciona ao espectador refletir sobre a sociedade e o país em que vive. 
Acompanhamos o cotidiano de uma família de classe média alta em crise financeira. Num bairro nobre do Rio de Janeiro vive Hugo (Marcello Novaes), economista com má sorte nos fundos de investimento, Sônia (Suzana Pires), que dá aulas de francês e tenta administrar o que resta, Jean (Thales Cavalcanti), o filho adolescente em fase de descobertas e que vai sentindo aos poucos as mudanças, como andar de ônibus para ir à escola. Também observamos a sua relação com a empregada Rita (Clarissa Pinheiro), que é a pessoa da qual se sente mais a vontade. Nesse meio todo há a irmã de Jean, que nunca é ouvida, nos identificamos imensamente com essa personagem, ela é a voz da razão naquela casa.
É insuportável o como reagem a decadência e como tudo é conduzido. Jean está decidindo sua carreira, ele quer uma coisa, seu pai anseia por outra, economista, claro, mesmo com a derrocada não perde o orgulho e ainda espalha ignorância e pensamentos retrógrados. A personagem que vem pra balançar e promover discussões sobre preconceitos, diferenças sociais, cotas e afins, é Luiza (Bruna Amaya), a namorada de Jean, os pontos levantados são super válidos mas acabam caindo no exagero do discurso decorado.
Jean mora na Barra da Tijuca, estuda no melhor colégio, já está encaminhado pra duas faculdades e vive dilemas normais de qualquer adolescente, como a timidez pra chegar numa menina, as decisões de futuro, etc. Sua vida desmorona de fato quando Severino, o motorista é mandado embora, o pai fala que ele foi viajar e visitar a família, daí começam os cortes, os carros vão diminuindo na garagem e dos empregados resta apenas uma que não consegue dar conta do trabalho. Essa relação patrão e empregado, casa grande e senzala é amplamente discutida no filme, além de expor bastante esteriótipos. Quando Jean descobre sobre a falência, ou melhor, abre os olhos para a situação, percebe que Severino foi na verdade mandado embora, então não consegue compreender certas atitudes do pai que faz questão de manter a arrogância.
O elenco está ótimo, Marcello Novaes incrível, compõe um personagem atual, inclusive lembra a história do Eike Batista. Destaque para o novato Thales Cavalcanti que representa bem o adolescente em fase de descobertas. Realista, o longa tem teor político e serve para que cada um de nós tenha consciência do país em que vive. 

Os ricos geralmente se esquecem de olhar para o próprio país e se escondem dentro de seus padrões privilegiados, ficam reféns do dinheiro e dos hábitos e quando começam a perder não sabem lidar, aí surge aquela cultura do querer ser sem ter.
"Casa Grande" foi inspirado num evento que aconteceu com a família do próprio diretor, é um filme que coloca em pauta assuntos atuais e que sem dúvidas merecem ser discutidos. 

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