quinta-feira, 25 de junho de 2015

Pelo Malo

"Pelo Malo" (2013) é um filme venezuelano de Mariana Rondón (Postais de Leningrado - 2007), que retrata vários tipos de doenças sociais que envolvem uma população rodeada pelo autoritarismo, pobreza e preconceitos.
Junior (Samuel Lange Zambrano), um menino de nove anos, tem cabelo encaracolado, e não pensa em outra coisa senão alisá-lo, Marta (Samantha Castillo), luta para sustentar a família após a morte do marido e, ao mesmo tempo, preocupa-se com a atenção de Junior com o visual, e tenta evitar o jeito estranho do filho.
O filme não apenas explora a desigualdade social, mas também as desigualdades humanas, o machismo está muito presente, como o julgamento da mãe ao pensar que o menino é homossexual. Junior quer alisar seu cabelo para sair bem na foto do álbum da escola, ele o puxa agressivamente com o pente e passa diversos produtos durante o filme todo, pois o padrão diz que seu cabelo é diferente do normal, é ruim por ser encaracolado. Essa distorção de imagem é angustiante para quem assiste, dói ver a criança sendo pressionada de todos os lados, principalmente pela mãe que não o aceita por supor coisas, e assim cada vez mais o despreza, do mesmo modo em que a sociedade faz com ela, a colocando à margem por ser mãe solteira, pobre e desempregada.
Marta tenta de todas as formas não passar fome, se humilha e chega ao ponto de pensar em vender Junior para a avó Carmen (Nelly Ramos), esta que o aceita e o ajuda a alisar o cabelo em troca dele decorar uma música, uma versão de "Meu Limão, Meu Limoeiro", do conhecido cantor venezuelano Henry Stephen.
Os objetivos mais simples se tornam grandes desafios, a miséria que o filme expõe é feia e triste. O destaque vai para o confuso conjunto habitacional que não se sabe bem onde começa e termina. O que mais impressiona é ver as crianças idealizando padrões de beleza inatingíveis e que a mídia infernal transmite, Junior quer alisar os cabelos e sua amiga deseja ser miss Venezuela. Orientação sexual, condição social, racismo, machismo, pressões sociais, tudo se confunde juntamente com uma mudança política (a doença e logo a morte de Hugo Chávez) com a incerteza de um futuro.
"Pelo Malo" é um filme esmagador, pois retrata diversos preconceitos e o como é difícil encontrar sua identidade num meio decadente que dita normas no que tange a sexualidade, comportamento, beleza, etc.

O drama tanto da mãe como do filho é bem trabalhado e refletimos muito sobre valores, algo interessante a se acrescentar é que a Venezuela tem um forte mercado, ou melhor dizendo, ditadura à beleza, já que é conhecido como o país que fabrica misses, existem agências especializadas na confecção delas, então imagine num país mestiço, assim como o nosso o quanto isso agride ao que se refere a se aceitar como se é, ainda estando numa classe social diferente rodeada por violência e tantas outras coisas.
Ditaduras sejam elas quais forem tendem a massacrar. "Pelo Malo" é um filme sério, realista, dolorido e necessário.

"Aceitar o cabelo como é significa reconhecer-se a si mesmo e ao outro, o problema é que o olhar do outro pode ser violento." - Mariana Rondón

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