quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Frances Ha

"Frances Ha" de Noah Baumbach (A Lula e a Baleia - 2005) é uma dramédia maravilhosa que esbanja espontaneidade. Frances (Greta Gerwig) é a ambiciosa aprendiz de uma companhia de dança, que tem que se contentar com muito menos sucesso e reconhecimento do que ela gostaria. Mesmo assim, encara a vida de maneira leve e otimista. Esta fábula moderna explora temas como a juventude, a amizade, a luta de classes e o fracasso.
A fotografia em preto e branco só faz evidenciar todo o charme e graciosidade que a personagem esbanja. Greta Gerwig está perfeita, e a identificação é imediata. Afinal, quem nunca passou por apuros, seja por fatores internos, sobre qual caminho seguir, ou externos, como problemas financeiros. Frances tem 27 anos e ganha algum dinheiro dando aulas de balé para crianças, mas seu sonho é entrar para companhia e se tornar coreógrafa. Ela divide um apartamento em Nova York com sua melhor amiga Sophie, as duas são inseparáveis, mas percebemos que Frances nutre uma lealdade sincera, por exemplo, quando termina o namoro porque não quer deixar Sophie e o apartamento. Já Sophie não titubeia quando decide ir embora e mudar para um outro bairro. O mundo de Frances começa a ruir a partir de então. Dispensada de um especial de natal do grupo de dança e afastada da companhia por um tempo, Frances fica sem um tostão e não tem como pagar o aluguel do apartamento que divide com dois garotos. Um que sai com uma moça diferente a cada dia e o outro que a acha inamorável. Nessa parte há uma melancolia exposta no filme, é triste observar que a sociedade acaba esmagando um espírito livre como de Frances, mas mesmo sem ter um rumo definido aos 27 anos, é uma sonhadora. Ela sente-se sozinha, pois Sophie está namorando sério, e vive mergulhada em seu trabalho, também vê seus colegas com ótimas carreiras, se casando, tendo filhos, viajando, se tornando pessoas frias e mentirosas, daí decide ir para a casa dos pais em busca de um lugar acolhedor.
É incrível os diálogos e a maneira que Frances os domina, sua espontaneidade cativa e sua situação envolve por estar tão próxima da realidade. 

Greta Gerwig ajudou a escrever o roteiro do filme juntamente com o diretor, e mais natural não podia ser, retratando os percalços vividos por Frances até encontrar seu lugarzinho no mundo.
Há uma crise antes de se chegar aos 30, a idade que a sociedade determinou de se estar estabelecido na vida em todos os quesitos, só que há pessoas que não querem seguir o padrão dito normal, continuam a sonhar e a perseguir seus sonhos por tempo indeterminado. E mesmo quando chega-se ao ponto, achando seu lugar, o seu encaixe, assim como Frances ao final fez, metaforizado quando dobra o papel com seu nome escrito, não se pode deixar morrer aquele sentimento bonito que o fez percorrer todo este caminho. A questão é que a vida não precisa ser moldada e rotulada. Não há um prazo determinado, ou de validade para acabar com os sonhos.
Há cenas maravilhosas, uma das é quando Frances é questionada na mesa de jantar por seus "amigos" sobre o que faz. E em um rompante decide ir a Paris por apenas dois dias só porque recebeu um cartão de crédito pelo correio. Nessa fase ela está praticamente desempregada e morando em um alojamento. 

Frances entende que precisa dar um rumo à sua vida quando em uma noite de bebedeira sua amiga quase termina o noivado, então ela a acolhe em seu quarto, mas pela manhã Sophie desparece. Ela sabe que o amadurecimento chegou para sua amiga e que ela decidiu seu destino, portanto, Frances acaba encontrando o seu mundo também. Então, vem o final, a platéia prestigiando seus bailarinos e a coreografia, tão sua, que cada movimento nos remete a ela ao longo do filme. A dança moderna, pela qual Frances quis seguir não poderia caracterizá-la melhor, pois há uma liberdade corporal, uma expressão que retrata tão bem a sua personalidade.  "Frances Ha" é um filme maravilhoso, que traça a trajetória de uma jovem para encontrar seu espaço em meio a um mundo que pressiona cada vez mais. Não há clichês e nem melodramas, são emoções reais que passeiam pela vida de qualquer um, por isso a identificação é instantânea. É uma obra realista e natural.

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