segunda-feira, 25 de maio de 2015

Coração Mudo (Stille Hjerte)

"Coração Mudo" (2014) do dinamarquês Billie August (Marie Krøyer - 2012, Trem Noturno para Lisboa - 2013) é um filme que reflete sobre a eutanásia, diversos aspectos são apontados na trama, como a aceitação, o sofrimento e incertezas da família diante a tal fato. Emocionante em vários momentos é preciso assistir sem julgar as atitudes dos personagens, pois não é uma situação fácil.
Três gerações de uma família se encontram na casa da matriarca para um fim de semana. Doente terminal, ela está decidida a acabar com sua vida naquele domingo e, por isso, deseja dar o adeus final a seus entes queridos. Sanne e Heidi, suas filhas, já concordaram em acatar a decisão da mãe de partir antes da doença se agravar, mas a proximidade com o fim faz da decisão algo cada vez mais difícil de lidar. Enquanto o fim de semana progride, antigos conflitos voltam a atormentá-los. Esther (Ghita Norby) sofre de esclerose lateral amiotrófica, Poul (Morten Grunwald), seu marido, que é médico informa sobre o como a doença irá acabar com ela em questão de pouco tempo, não terá mais os movimentos do corpo, perderá a consciência e no fim precisará de ajuda até para respirar. Diante disso, ela toma a difícil decisão do suicídio assistido. Com o consentimento de todos da família farão uma despedida num fim de semana e quando o momento chegar Poul fará que a morte pareça natural, já que a eutanásia é proibida na Dinamarca, aliás poucos países a permitem, dentre eles está a Holanda, Bélgica, Suíça, Alemanha, e alguns estados americanos.
Acompanhamos a chegada de Heidi (Paprika Steen) com o marido Michael (Jens Albinus), e o filho (Oskar Saelan Halskov), Sanne (Danica Curcic), com o namorado Dennis (Pilou Asbæk), além de uma grande amiga (Vigga Bro) da família. Cada um lida à sua maneira, mas respeitam o desejo de Esther, Sanne, a filha mais nova que sofre de depressão é dona de um dos momentos mais tensos e emocionantes do filme, ela se arrepende de não ter convivido muito com a mãe, Heidi é aparentemente mais forte, só que ela acaba descobrindo algo sobre a família que jamais poderia imaginar, vai ligando os pontos, e de repente desaba. As pessoas dentro da casa vão sofrendo um tipo de metamorfose ao longo, quem parecia forte fica frágil e vice-versa.
Algumas cenas chegam a ser bem tocantes, como a do neto explicando para a avó o que é facebook e ela lhe ensinando o como convidar uma menina pra sair, mas é um filme contido, e apesar de tratar de um assunto sensível é bastante frio. Emociona em poucas partes e outras consegue nos fazer rir, como a cena em que todos fumam maconha na sala com Dennis, onde muitas coisas são esclarecidas, esse personagem propõe ao espectador um olhar diferenciado da história.

A fotografia é linda e prima por tomadas fechadas que valorizam pequenos detalhes, os dedos de Esther passando pelos móveis, seus olhos se despedindo do ambiente, e a cena mais bonita que é quando chega o domingo e ela acorda e decide cochilar de novo para ter novamente a sensação de despertar.
Todos iremos morrer, a única diferença é que eu sei o dia exato, fala Esther num momento de apreensão daqueles que ama. Alguns conflitos se dão entre eles, inseguranças, medos, mas sobretudo o que fica é o respeito à dignidade de Esther, dela poder escolher morrer bem.
"Coração Mudo" é um filme que não apela e mostra-nos de maneira sutil o como temos dificuldade em lidar com a finitude da vida, mas quando confrontados por uma doença que tirará tudo de nós sem que algo possa ser revertido, sem dúvidas, a morte é a melhor escolha.

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