quinta-feira, 16 de abril de 2015

Pais e Filhos (Soshite Chichi ni Naru)

"Pais e Filhos" (2013) de Hirokazu Koreeda (Boneca Inflável - 2009) questiona os laços de sangue, algo que damos tanto valor e que na verdade diz tão pouco, até porque o amor e o carinho nasce por diversos aspectos. No filme acompanhamos Ryota (Masaharu Fukuyama), um arquiteto de uma grande empresa, workaholic acaba deixando sua família em segundo plano, sua esposa Midori (Machiko Ono) e seu filho Keita (Keita Ninomiya). Eles têm tudo, uma vida boa, um grande apartamento, mas falta o essencial, o calor, o afeto. Ryota é narcisista, obcecado com o dinheiro e pelo futuro do seu filho, cujo já traçou e leva isso rigidamente, mas o menino é ingênuo e tem uma personalidade serena, o que acaba afastando-os mais ainda. Um dia Midori e Ryota ficam sabendo que houve uma troca de bebês no hospital após o nascimento de Keita, e que este não é filho deles, então começa uma busca e encontram a família da qual o filho biológico está. Segue-se uma confusão psicológica, Midori não se conforma em não ter desconfiado e Ryota diz que agora percebe o porquê do filho ser tão diferente dele. O outro casal Yudai (Lily Franky) e Yukari (Yoko Maki) pertencem a outra camada social, aparentemente não ficam tão aterrorizados com a notícia, pretendem tirar o máximo de dinheiro do hospital e conforme o desenrolar aceitam as propostas de Ryota. É uma família feliz, grande e calorosa.
A maneira com que o longa compara as duas famílias é interessante, pois demonstra o quão importante na vida é manter-se consciente do que está passando para o filho, por exemplo, Ryota vinha de uma criação complicada, sua mãe abandonou o lar por motivos dos quais não são explorados pela história, e seu pai acabou se casando novamente, tempos depois ele foge e quebra o vínculo com a família, isso reflete no como cria Keita, sob punhos de aço, querendo que ele seja um campeão aos cinco anos de idade, não deixando ele ser uma criança. Já Yudai permite que seus filhos brinquem, baguncem, sejam eles mesmos, não pressiona, pois o tempo de fazer escolhas chegará, além de conseguir expressar amor, coisa que Ryota não faz. Os meninos são diferentes entre si, Keita é tímido e ainda vive na inocência, Ryusei (Shogen Hwang) é mais ativo, esperto e questionador.
As famílias vão se organizando e convivendo com seus respectivos filhos, mas o fato é que o laço de sangue não importa, todo mundo sofre. O que foi feito está feito, nada será como antes e o melhor a fazer é lidar com a situação de forma menos egoísta possível, pensando nas crianças.

As sutilezas expostas nos emocionam, é completamente real a situação retratada. Uma das cenas mais lindas é a que transforma Ryota, quando ele olha as fotos tiradas por Keita sem ele saber, daí parece que o coração dele sente realmente o amor.
O longa reflete sobre o quão importante é saber que coisas materiais não significa amar, o maior presente é o tempo, pois mais a frente quando eles se tornarem adultos lembrarão somente dos momentos, como um belo fim de semana acampando, pescando, um sorriso, uma brincadeira, um abraço extremamente afetuoso, uma conversa, enfim, detalhes, miudezas que fazem toda a diferença na formação de um ser humano.
Cada vez menos se convive com os filhos, são inúmeros meios de entretê-los e quando se reúnem a frieza toma conta, é cada um no seu canto, o afeto, o 'eu te amo' é raro. Justamente por isso que é tão gostoso ver a família de Yudai, eles cultivam a simplicidade e a relação se torna descomplicada e natural.

"Pais e Filhos" é belíssimo e serve como reflexão para nos fazer enxergar o que realmente importa para uma criança, questionar laços de sangue e também para valorizar as pequenas coisas cotidianas.
As pessoas vivem estressadas e acabam por descontar em alguém, quase sempre nos filhos e não pensam no que isso pode acarretar, talvez esse filho no futuro faça isso com seu próprio filho e assim por diante. É piegas dizer que o amor continua sendo o caminho mais fácil, mas é a pura verdade, só assim os caminhos se tornam um só e a dificuldade desparece.

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