quinta-feira, 2 de abril de 2015

A Gangue (Plemya)

"A Gangue" (2014) dirigido pelo ucraniano Myroslav Slaboshpitsky acompanha a chegada de um garoto surdo (Grigory Fesenko) num internato especializado em deficiência auditiva, mas o ambiente não é exatamente um bom local, além de ter uma hierarquia entre os alunos que são ligados ao crime e à prostituição.
O filme retrata de forma seca e cruel o submundo em que esses jovens habitam, são pessoas frágeis que imergiram numa vida cheia de violência por não ter nenhum tipo de auxílio. Numa das poucas vezes em que os alunos são mostrados em sala de aula a professora mostra um mapa em que a Ucrânia está ligada à Europa Ocidental, questão atual que levou o país a uma grande crise. O garoto novo não demora para conquistar o respeito dos colegas e então passa a agir como o líder da gangue, mas acaba se envolvendo com uma das meninas (Yana Novikova) que se prostituem, o que é proibido dentro das regras do grupo.
O diferencial deste longa se dá pelo fato de que não há diálogos, os atores são surdos e se comunicam por língua de sinais, e não há legendas ou qualquer tradução, também não existe trilha sonora, apenas ruídos, sons do ambiente. Somos inseridos no contexto silencioso do filme e de início pode parecer confuso, mas conforme o desenrolar entendemos, as imagens são mais que suficientes.
O garoto recém-chegado é tímido e apesar de resistir bastante vai se integrando e tornando-se violento, não há como ser diferente neste meio. Essa brutalidade que cresce a cada dia mais pelo convívio culminará numa sequência estarrecedora.
Há muita agressividade na maneira com que se comunicam, as gesticulações e expressões são bem exageradas. É incrível o como as emoções são elevadas, algumas partes são chocantes, como quando um garoto é atropelado por um caminhão, é extremamente desconfortante, também não há pudor em retratar longas cenas de sexo.

Os temas abordados não são agradáveis, o crime, a violência, a prostituição, o aborto, nunca foram expostos como em "A Gangue". É forte e perturbador. É uma obra inusitada que amplia as possibilidades do cinema, e que permite ao espectador utilizar-se das mais variadas sensações para a compreensão.
Cada cena de "A Gangue" é um grande plano-sequência cheio de movimento que funciona para podermos captar o que se passa. Ele exige uma maior atenção, mas isso não significa que é um filme de difícil absorção, difícil vai ser esquecê-lo, pois os atos dos personagens são medonhos, ao contrário dos filmes que costumam retratar deficientes como coitados, este os colocam como seres errantes e abandonados por um sistema, excluídos a mercê da violência como um escape.

Interessante, o filme faz qualquer cinéfilo ficar boquiaberto diante das imagens, algumas cenas realmente ficam na memória e os poucos sons que se ouve, como os urros de dor da garota é de uma agonia absurda, e a sequência final fecha perturbadoramente com chave de ouro.
Natural, comovente e pesado, "A Gangue" faz o diferencial pela temática que raramente é explorada.

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