segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Para Sempre Alice (Still Alice)

"Quando eu era bem nova, na segunda série, minha professora falou que borboletas não vivem muito, algo em torno de um mês, e fiquei tão chateada. Fui para casa e contei para minha mãe. E ela disse: 'É verdade. Mas elas tem uma linda vida'. E isso me faz pensar na vida de minha mãe, e na da minha irmã. E, de certa forma, na minha vida."

"Still Alice" (2014) baseado no livro homônimo da escritora e neuro-cientista Lisa Genova é um filme que aborda um tema desesperador, a ingrata doença chamada Alzheimer. Não tem como não lembrar do primoroso e duro filme de Haneke, "Amour" - 2012, mas aqui a história apesar de triste é mais embelezada. Julianne Moore como Alice está sublime, nos entrega de presente uma mulher forte e inteligente que de repente se vê aos 50 anos com uma doença genética que devastará suas memórias e sua identidade.
Alice Howland, uma bem-casada mãe de três filhos adultos, é uma renomada professora de linguística, que começa a esquecer as palavras. Ao receber um diagnóstico de Mal de Alzheimer, Alice e sua família terão seus laços testados. Alice é uma mulher ativa, formadora de opinião, mas em uma de suas palestras algo novo acontece, falta uma palavra, e por conseguinte pequenos lapsos de memória vão acontecendo, esquecimentos de datas, objetos, até que um dia correndo no parque se vê perdida. Isso a impulsiona a investigar, vai ao médico e não demora para que o diagnóstico se comprove em Alzheimer precoce, que acontece antes dos 65 anos e que só nesses casos é hereditário.
Alice tem uma família impecável, John (Alec Baldwin) um marido carinhoso mesmo tendo o trabalho em primeiro plano, Tom (Hunter Parrish), um filho se formando em medicina, Anna (Kate Bosworth), que está iniciando uma bela família, e a mais nova Lydia (Kristen Stewart) que não quer saber de faculdade e tem o sonho de ser atriz, é uma garota sonhadora e a que mais presta atenção na mãe apesar de estar longe. Kristen é aquela de sempre, não surpreende na atuação, mas sua personagem é a que nos dá a possibilidade de conhecer mais a fundo Alice. Ela dialoga com a mãe, questiona e quer saber como se sente, coisa que os outros filhos sendo ótimos não fazem.
Alice sabe que piorará e tenta colocar a mente para funcionar com joguinhos de palavras, e usa o celular como uma ferramenta imprescindível, também acaba gravando um vídeo para quando mais tarde estiver num estado crítico.
Para quem já conviveu perto de alguém que sofre dessas perdas diárias sabe o quanto é difícil, é uma doença solitária e que cabe muita paciência e compreensão, o estágio crítico talvez, seja quando os rostos conhecidos vão se tornando estranhos e jã não há mais resquícios de quem se é. Toda a identidade, coisas que marcam uma personalidade e que se fazem essenciais, se vão. Momentos de toda uma vida simplesmente escoam pelo ralo.

Muitas cenas envolvem uma grande carga emocional, muitos diálogos interessantes e informativos, o ponto alto da trama se concentra quando Alice em uma palestra sobre o Alzheimer relata o como é conviver com uma doença que a faz perder-se de si mesma, com muita dificuldade ela elabora um texto e vai marcando com a caneta as linhas que lê: "Sou uma pessoa vivendo no estágio inicial do Alzheimer. E assim sendo, estou aprendendo a arte de perder todos os dias. Perdendo meus modos, perdendo objetos, perdendo sono e acima de tudo, perdendo memórias. Toda a minha vida eu acumulei lembranças. Elas se tornaram meus bens mais preciosos. A noite que conheci meu marido, a primeira vez que segurei meu livro em minhas mãos, ter filhos, fazer amigos, viajar pelo mundo. Tudo que acumulei na vida, tudo que trabalhei tanto para conquistar, agora tudo isso está sendo levado embora. Como podem imaginar, ou como vocês sabem, isso é o inferno. Mas fica pior. Quem nos leva a sério quando estamos tão diferentes do que éramos? Nosso comportamento estranho e fala confusa mudam a percepção que os outros têm de nós e a nossa percepção de nós mesmos. Tornamo-nos ridículos. Incapazes. Cômicos. Mas isso não é quem somos. Isso é a doença. E como qualquer doença, tem uma causa, uma progressão, e pode ter uma cura. Meu maior desejo é que meus filhos, nossos filhos, a próxima geração não tenha que enfrentar o que estou enfrentando. Mas, por enquanto, ainda estou viva. Eu sei que estou viva."

"Still Alice" é um ótimo filme para conhecermos o como o Alzheimer age e se maravilhar com a linda atuação de Julianne Moore. Todo o processo impressiona e a cada olhar da personagem faz com que sofremos com ela e, inevitavelmente refletimos sobre o como somos frágeis. É real e por isso, dolorido. Um filme que transborda emoção!

"Quando não há certezas possíveis, só o amor sabe o que é verdade."

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