quinta-feira, 10 de julho de 2014

The Lunchbox

"Eu li em algum lugar que, às vezes, o trem errado pode levar à estação certa."

"The Lunchbox" (2013) do diretor indiano Ritesh Batra é um filme delicioso em que o destino é o grande protagonista. O Mumbai Dabbawallahs é um serviço de entrega de comida bastante conhecido em Mumbai, na Índia. Um dia, um erro na entrega faz com que uma pacata dona de casa conheça um homem que está na fase final de sua vida. Juntos eles criam um mundo de fantasia a partir de mensagens trocadas das embalagens usadas pelo Mumbai Dabbawallahs.
O cinema indiano é bem característico e marca por suas cores, histórias amorosas intensas, músicas, danças, etc. Mas nesse o que predomina é o sabor, precisamente o da vida. Em "The Lunchbox" não acontece as tais dancinhas repentinas, ou músicas excessivamente dramáticas, os personagens são pessoas comuns que tentam lidar com os problemas cada um à sua maneira. Saajan Fernandes (Irrfan Khan) é sozinho em meio a uma cidade efervescente, cansado da vida enfrenta todos os dias a rotina de seu emprego numa empresa de contabilidade, em breve ele se aposentará, mas antes terá que ensinar o cara que ficará no seu lugar, Shaikh (Nawazuddin Siddiqui), que tenta agradá-lo de todas as formas, mas Fernandes sempre se esquiva. Já a nossa outra protagonista Ila (Nimrat Kaur), dedica-se em recuperar seu casamento, o marido é ausente em todos os sentidos. Diante disto ela começa a preparar comidas incrementadas e com diversos temperos, sempre auxiliada por sua vizinha que mora no andar de cima. E é através do sistema que entrega as quentinhas aos maridos nos empregos que Ila e Fernandes tem suas vidas mudadas.
O almoço que Ila preparou para seu marido acaba indo para Fernandes, e o engraçado nisto tudo é que ele vai até o restaurante do qual é responsável pela sua comida e agradece dizendo que estava muito bom. Ila descobre o erro ao perguntar para seu marido o que achou do almoço, pela resposta ela entende o sucedido. Bem, a questão é que ela continua a preparar o almoço e um dia deixa um bilhete na marmita explicando o acontecido, ele responde e então uma linda amizade nasce através desses bilhetes trocados. Ila abre seu coração e conta sobre sua vida, espontaneamente o filme é tomado por um sentimento de afeto que tanto eles sentem um pelo outro, como nós espectadores também sentimos. Um dia, Ila propõe um encontro para que possam se conhecer pessoalmente, e aí é que podemos ver a essência de cada personagem, a busca de um sentido para suas existências.

Toda vez que o cinema foca no tema destino e o encontro de duas pessoas, é inevitável, nos desmanchamos diante da tela, afinal, todos temos esperança de encontrar uma pessoa especial que tenha o poder de mudar algo em nossa vida. O destino existe, o acaso faz seu papel, mas somos nós que decidimos o depois, mas se for pra ser, será!
"The Lunchbox" tem uma narrativa deliciosa, a história vai encaixando os personagens sutilmente, é gostoso ver a troca de mensagens entre os dois e sentir o que cada um tem guardado em seu ser. Apesar da história se passar na caótica Mumbai, ela perfeitamente se enquadraria em qualquer grande capital, como por exemplo, a dificuldade de se tomar um transporte público, o trajeto do trabalho, e a solidão que assola em meio a multidão. Ultimamente devido a diversos fatores criar vínculos está se tornando cada vez mais raro, as pessoas não se olham, não conversam e a gentileza virou algo do passado. Essa troca de bilhetes que acontece na história de Saajan e Ila nos dá aquele gostinho de paixão antiga em que o charme consistia no ato de se conquistar alguém, de conhecer e desvendar os mistérios da pessoa.

"The Lunchbox" dosa bem o drama com um humor leve, é humano, sensível e tem ótimas metáforas ao longo da história. Para quem ainda nutre qualquer tipo de preconceito com o cinema indiano por causa de alguns excessos, que nada mais é do que características, assista "The Lunchbox", que com certeza irá mudar de ideia. É realmente bonito o entrelaçamento que acontece entre os personagens, e o seu desfecho em aberto nos permite imaginar o final que quisermos.

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