terça-feira, 17 de junho de 2014

Canibal

"Canibal" (2013) do diretor espanhol Manuel Martin Cuenca narra a história de Carlos (Antonio de la Torre), o mais prestigiado alfaiate de Granada. Um homem respeitável. Sua vida é trabalhar e comer. Mas não qualquer coisa. Carlos é canibal. Alimenta-se de mulheres. Turistas, estrangeiras, desconhecidas com quem não tem nenhum apego emocional. Mas tudo isso muda no dia em que conhece Nina, uma romena à procura de sua irmã gêmea, Alexandra, que despareceu. Nina está desesperada e precisa de ajuda. Carlos é a sua única esperança.
Primeiro é bom que saiba que "Canibal" não é um filme comum, não segue os padrões do estilo, esqueça ações violentas e sangue jorrando, o roteiro prima por algo mais discreto que envolve olhares e gestuais, e situações que acontecem exatamente quando devem acontecer. Carlos é um psicopata, é frio e distante de qualquer tipo de relação que envolva sentimentos. Seus dias seguem uma rotina que se resume a ir trabalhar na sua alfaiataria que fica bem próxima de seu apartamento.
O filme se inicia com Carlos observando, perseguindo e abatendo sua presa, após isso volta para casa e enche a geladeira, sua vida aparenta ser tediosa e solitária, até que ele começa a prestar atenção em sua vizinha, Alexandra, uma exuberante massagista. Aos olhos de Carlos ela se encaixa perfeitamente no seu cardápio. Um dia Alexandra some, dias depois sua irmã Nina começa a procurá-la, bate na porta de Carlos e pergunta se sabe onde ela poderia estar, então algo inesperado acontece, Carlos decide ajudá-la na procura, no que acaba se envolvendo e o fazendo lutar contra seus instintos.
"Canibal" tem uma fotografia excelente e uma movimentação de câmera que nos permite observar detalhes, é um drama denso que diz sobre as dificuldades de relação e o quão longe uma mente perturbada pode ir. Há cenas memoráveis que aterrorizam, não pelo fato da ação, mas justamente pelo contrário, a tensão que alguns acontecimentos causam, como a cena do mar.
É realmente interessante como a mente reage a certas pessoas, o efeito que produz quando gostamos ou não. Carlos de fato come o que o provoca, algo incontrolável em sua natureza, mas Nina desperta o lado humano que envolve emoções. Lá para o final o filme impressiona, justamente pela luta que acontece entre emoção e instinto, o diálogo que se sucede é curioso e o desfecho surge inesperadamente.

"Canibal" é um filme de eventos discretos, mas muito bem desenvolvido, o silêncio predomina gerando bastante desconforto. O canibalismo é um pano de fundo para explorar as dificuldades de se lidar com os sentimentos. Antonio de la Torre está soberbo, cativa com sua atuação densa, e Olimpia Melinte que faz tanto Alexandra como Nina, surpreende com a diferença de personalidade entre as duas mulheres. Enfim, é uma obra singular para se degustar e genial ao que se propõe.

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