sexta-feira, 7 de março de 2014

A Montanha Matterhorn (Matterhorn)

Escrito e dirigido pelo holandês Diederik Ebbinge o filme conta a história de Fred, um homem solitário, religioso e completamente metódico. O pequeno vilarejo em que vive parece se resumir a uma única rua que culmina em uma igreja. Fred é viúvo e não fala com seu filho Johan há muitos anos. O filme não nos dá informações de pronta, são pequenos detalhes, uma coisa aqui e outra ali que faz com que liguemos os pontos.
"Matterhorn" já começa em grande estilo com a seguinte frase de Bach: "Não é difícil. Tudo o que se tem de fazer é bater as teclas certas no momento certo", e logo segue com a ária também de Bach "Erbarme dich, mein Gott", que faz parte da "Paixão Segundo São Mateus". Resumindo grosseiramente a música é uma súplica imensamente sentida de um fiel arrependido. Essa música dita o tom do filme, a melancolia e a saudade de um passado. Fred ouve esta música cantada por seu filho aos oito anos de idade, a época que tudo parecia estar em seu devido lugar. A maneira que Fred encontrou para manter esse sentimento é não quebrando sua rotina ou suas manias.
É um filme diferenciado, a narrativa e o ritmo segue calmo, para as coisas se arranjarem existe o tempo certo, a evolução que o personagem sofre demonstra o quão surpreendente a vida pode ser. Fred segue seus dias milimetricamente iguais, espera religiosamente o horário das refeições, arruma os alimentos no prato e todos os seus gestos são comedidos e alinhados. Não há nada fora do lugar. Porém, a sua vida começa a mudar quando decide ajudar Théo, um homem perdido no mundo, e que mais parece uma criança. Ele é manipulável, e Fred consegue aos poucos inseri-lo no seu mundinho, de maneira que acostuma-se a figura estranha de Théo, então passa a morar lá e não demora para que os colegas da igreja venham questioná-lo.
É bizarro o desenrolar disso tudo, pois a intenção inicialmente de Fred era fazer uma boa ação, só que ele acaba utilizando-o para outros meios, vendo que Théo imita animais e com isso anima as crianças, cria uma espécie de espetáculo de circo para se apresentar em aniversários, onde ele narra e canta enquanto Théo imita cabras, galinhas e outros animais.

Fred tem a intenção de ir visitar a montanha Matterhorn, lugar repleto de memórias e significados para ele, e para ir guarda o dinheiro de suas apresentações. Também quer levar Théo, mas acaba descobrindo que aquele homem tem um lar e que é daquele jeito devido a um grave acidente. O legal do filme é não colocar tudo explicitamente, ele faz com que pensemos nas circunstâncias da vida e no como tudo pode mudar de uma hora pra outra. Fred era feliz com sua família, mas com o tempo o filho tão querido demonstrou que possuía vida própria além daquela que o pai desejava para ele. Não suportando expulsa-o de casa, e logo depois sua mulher morre em um acidente. De repente se vê sozinho, cheio de manias em um mundo que se resume a ir somente à igreja.
O assunto homossexualidade aparece no filme de maneira tão sutil que nem percebemos, Fred tenta lidar com isso a partir do momento em que Théo entra na sua vida e todos ficam questionando sua sexualidade, chegando a pichar Sodoma e Gomorra na fachada de sua casa. A mudança interior de Fred acontece, e então surge um caminho para se livrar do peso que carrega em relação ao seu filho. Emocionante ao final quando os olhos do pai e filho se cruzam. Sensação de alívio que o fará seguir adiante.

A cena da imagem acima exemplifica muito bem a quebra que acontece na vida de Fred, enquanto todos do vilarejo estão indo à igreja, os dois seguem na contramão.
A história caminha de maneira leve e despretensiosa, são sentimentos fortes, como culpa, solidão, preconceito, convenções sociais e outras coisas mais, todas tratadas com muita sutileza. Apesar do tom aparentemente sério, o humor está inserido também de forma sutil, seja nas expressões faciais, nos gestuais, ou em situações e diálogos fora do comum.
É necessário se desprender de rótulos, convenções e supostas verdades que já não fazem mais sentido manter, além de que guardar mágoas e culpas só prejudica a nós mesmos. Quanto mais jogarmos para fora sentimentos ruins, mais abertos seremos e mais saídas enxergaremos. O ponto essencial do filme é: Há tempo para tudo nesta vida, até mesmo para subir uma montanha!

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