segunda-feira, 10 de março de 2014

A Cor do Paraíso (Rang-E Khoda)

Majid Majidi é um diretor de extrema sensibilidade, para quem ainda não embarcou nas sutilezas de suas histórias indico além de "A Cor do Paraíso" (1999), "Os Filhos do Paraíso" (1997), "Baran" (2001) e "A Canção dos Pardais" (2008). São filmes que retratam a simplicidade, detalhes da vida, coisas que realmente valem a pena. O cinema de Majid Majidi educa e nos dá a oportunidade de refletir o quanto damos valor para superficialidades. É uma singela poesia sobre pequenas grandes coisas.
Mohammad é um jovem estudante de oito anos que frequenta uma escola para cegos em Teerã. Sua impossibilidade de ver o mundo reforça mais ainda sua habilidade em sentir suas poderosas forças. Depois de um ano, ele volta à sua terra natal, um vilarejo no norte montanhoso do Irã, junto com seu pai, um carvoeiro viúvo. Ao chegar no vilarejo vemos a alegria de encontrar a avó e as irmãs. São muitos sorrisos e toques.
O pai deseja recomeçar a vida, quer se casar, e para isso necessita se apresentar a família de sua pretendida com todos os costumes e rituais da religião. Mohammad é um empecilho na vida deste homem, mas não o julgamos, ele tem os seus motivos e a todo instante vemos o desespero e a tristeza nos seus olhos; em contrapartida, o garoto é muito amado e querido pela avó e as irmãs. Muito inteligente ele possui uma grande sensibilidade, a cegueira o fez enxergar muito mais do que podemos imaginar. O pai não quer que ele seja exposto, é um homem rude que já viveu muitos apuros, agora deseja ser feliz, constituir uma nova família, tem medo do seu futuro e seu egoísmo chega a ser compreensível. São dilemas de um ser humano comum, ele não é totalmente mau e nem bom. Um dia Mohammad vai escondido à escola com suas irmãs, inclusive mostra mais conhecimento e desenvolvimento de leitura que os outros. Seu pai descobre e antes que todos saibam do filho cego, o leva para ser aprendiz de carpinteiro com a desculpa de que ele precisa aprender uma profissão. É claro, ele estava se livrando do menino, mas a vida a todo momento surpreende e reviravoltas acontecem para que pensemos na situação e aprendamos com tais circunstâncias. Depois da partida do garoto a avó ficou muito triste e doente, e não demora para que faleça, essa morte faz com que a família da noiva desista do casamento, pois foi considerado mau agouro.
O longa tem cenas dotadas de uma beleza imensurável, assim como os diálogos, um dos mais lindos é com o carpinteiro que o ensina, e que também é cego. É de cortar o coração. Mas, a maioria das cenas não precisam de falas, elas fluem calmamente e delicadamente.

Mergulhado em tristezas, culpas e desesperanças depois de tudo o que lhe sucedeu, o pai vai buscar o menino, no caminho de volta acontece um acidente na ponte, entre tantas tentativas de se livrar de seu filho ao fim ele resolve ir atrás, então se joga na correnteza a fim de salvá-lo, esses momentos finais são tensos e angustiantes. O que vem a seguir é de uma sutileza maior que tudo.
"A Cor do Paraíso" é uma história de complexidades humanas, pessoas normais que às vezes não conseguem ter uma visão mais sensibilizada da vida, assim como o pai de Mohammad, que não via no filho o quanto era especial. Emoldurado por uma linda fotografia, o filme é para aqueles que desejam acrescentar dentro de si valores simples, mas que fazem toda a diferença.

Muito premiado mundo afora, "A Cor do Paraíso" é impecável, os personagens, o vilarejo, as plantações, é tudo muito belo. É um filme singelo, mas com uma grande sabedoria.
Eis o momento mais emocionante do filme, Mohammad conversando com o carpinteiro sobre Deus: "Nosso professor diz que Deus ama os cegos porque nós não podemos ver. Mas eu disse para ele que se isto fosse verdade, Deus não nos faria cegos para que não pudéssemos ver. Ele então disse: 'Deus não é visível! Ele está em todo o lugar. Você pode sentir. Você pode vê-lo através de seus dedos'. Agora eu o procuro em todo o lugar até o dia em que minhas mãos possam tocar Ele, e então eu vou contar todos os segredos de meu coração."

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