quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Lemon Tree (Etz Limon)

Baseado em fatos reais "Lemon Tree" dirigido por Eran Riklis retrata a história de Salma (Hiam Abbass), uma viúva palestina que herdou um pomar de limões de seu pai. Sua pacata vida se resume a cuidar desses limoeiros, pois é sua única forma de subsistência. As coisas começam a tomar um rumo diferente quando o ministro de defesa de Israel torna-se seu vizinho, segundo os guardas israelenses, terroristas poderiam se infiltrar no pomar e agir contra o ministro. Salma não aceita as condições e nem indenizações, então começa uma batalha, contrata um advogado e leva o caso até o tribunal. Corajosa, não quer perder seu meio de vida e o vínculo de suas raízes, persiste e todo esse processo chega a suprema corte, o que faz tornar o caso político e midiático.
O conflito Israel/Palestina é o tema do filme, mas não é somente sobre isso, já que ele aborda de maneira ampla outros problemas. É com muita simplicidade e sutileza que tudo se desenvolve. Por um lado Salma carrega tradições e o respeito pelos costumes de seu povo, do outro a modernidade caracterizada por Israel, que faz com que o povo palestino se sinta invadido, um estranho em sua terra. A mudança do ministro ao lado de Salma faz alusão ao sentimento que o povo palestino sentiu quando a ONU autorizou a criação do estado de Israel em 1948.
Em nenhum momento o ministro é designado como vilão e Salma como a coitadinha. Ele é até gente boa e simpático, mas sabe-se que quem tem muito poder é obrigado a ouvir seus assessores, pois há muito para se preocupar e em questão de segurança não há outro jeito, o pomar tem que ser arrancado. Salma não fica chorando, vai atrás de seus direitos, mesmo que para isso esgote todas as suas forças defendendo seu pedaço de terra contra os grandes. O principal é que há outros meios de se entrar em um acordo sem ser por meio de bombas e violência. Salma conseguiu algo disso tudo, não foi como queria, mas um grande passo foi feito diante deste conflito.
Um outro ponto que o filme toca é em relação a mulher, Mira esposa do ministro não é a favor de cortar o pomar de Salma, mas ela não toma partido nenhum, apenas a olha do outro lado da cerca que ergueram para separá-los do pomar. Uma maneira de podermos assistir os dois lados e compreendê-los sem necessariamente julgá-los.
Salma e seu advogado Zaid acabam por se apaixonar, ele não desiste da causa e admira a coragem de Salma, apesar dela ser mais velha ainda é muito bonita e como qualquer outra mulher deseja ser amada. Ela começa a se arrumar, se maquiar, e então começam a falar demais, e como os costumes são machistas não demora para que alguém venha alertá-la.

O romance é retratado de forma muito linda e dá um respiro nesse tema tão complexo. É um amor delicado que nasce entre as visitas, e os olhares trocados denunciam o sentimento que cresce, torcemos para que dê certo, mas infelizmente nem sempre o amor vence, ainda mais numa cultura tão repressora.
Há um contraste de pobreza e riqueza nisto tudo, enquanto a Palestina é caracterizada pela pobreza por ter uma cultura mais fechada, já Israel é rica porque aceita ideias e modernidades. Também retrata a questão dos muros que se erguem por causa da limitação de pensamentos, no que gera mais discordâncias e ódio.
Destaque para a cena inicial onde Salma corta seus limões e os acomodam num recipiente com outros condimentos e temperos ao som de uma versão de "Meu Limão, meu Limoeiro". É simples, mas de uma beleza exuberante.

O diretor inteligentemente colocou algo singelo, como os limões para retratar um conflito de proporções gigantescas. Há muitas camadas neste filme, uma delas que vale evidenciar é de como a mulher árabe é vista, Salma não pode sequer ter vaidade, quanto menos ter vida amorosa depois da viuvez, o povo palestino acaba por nutrir preconceitos entre eles mesmos, então como lidar com um povo diferente?
É um filme para se conhecer os dois lados, mas principalmente para compreendê-los. E exemplifica que onde há conflitos nos quais a guerra e a intolerância predomina ninguém sai vitorioso.

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