segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Takva - O Temor de um Homem de Deus

"Takva" é uma produção da Turquia juntamente com a Alemanha. A palavra numa tradução literal seria temor a Deus. Por isso nem vou utilizar o subtítulo brasileiro "A Fuga de Deus", acho mais conveniente usar o traduzido ao pé da letra, "O Temor de um Homem de Deus".
"Takva" mostra o quanto a fé pode ser cruel a um homem que vive afim de não cometer pecados e desapontar o seu Deus. Viver fora de sua fé é se sujeitar a um mundo do qual designam mundano. Se sujeitar a um Deus que tudo vê e que no menor deslize pune, a própria consciência se torna o seu Deus, impossibilitando de ter uma vida social. Apesar de achar muito bonito teoricamente a maneira como os islãs oram para seu Deus e todos os rituais de conexão, as palavras que se tornam quase um portal para essa fé, não consigo crer em um Deus tão rude e punitivo, talvez pela visão ocidental em ter a fé não vinculada com a religião, por exemplo, posso ter fé na vida, em mim e nas pessoas que me rodeiam, sem necessariamente louvar um Deus a todo momento. A fé é diferente de crença. Mas numa religião tão castradora como é o Islamismo, Alá é o único que pode salvar e absolver.
Na história Muharrem é um homem humilde e introvertido que vive de forma limitada e solitária. Adere de forma rígida a doutrina islâmica, inclusive a abstinência sexual. Sua extraordinária devoção atrai a atenção do líder de um rico e poderoso grupo islâmico de Istambul que oferece um cargo de coletor de renda das suas inúmeras propriedades. Emprego novo, Muharrem, lança-se ao mundo moderno, o mesmo que ele evitara com sucesso durante toda sua vida. Logo começam a surgir os conflitos pessoais. Ele se torna orgulhoso, dominador e desonesto. Para piorar a situação, sua paz interior está abalada pela imagem de uma mulher sedutora que o atormenta nos seus sonhos. Agora sua devoção está virada, o medo de Deus começa a dominar seus sentidos. Fechar os olhos pro mundo que nos cerca e unicamente fazer da vida devotada a Deus, é um passo para a loucura e é isso que acontece ao nosso personagem. Ao lidar com pessoas diferentes, dinheiro, começa sem querer se questionar e entrar em parafuso, os desejos começam a aflorar, a ganância, o sexo, e tudo isso o atordoa, pois ele é um homem de Deus, que ao menor erro, sente medo do que pode acarretar se desobedecê-lo.
Metade do filme é exposto todo o seu fervor a Alá, somos puxados para seu mundo. A outra metade é a mudança que ocorre em seu íntimo e a confusão que o toma. O filme trata de um segmento da religião islã. Designados como Sufis, os islãs místicos. É uma série de conceitos e práticas que passam pela pobreza, reclusão, ilusão, privação da alma, cantar e dançar; é baseado em uma mistura de muitas religiões e filosofias diferentes.

O profeta Muhammad diz: "Aquele que fizer um ato que não está de acordo com meus comandos deve ser rejeitado" - Ou seja, a desobediência a Deus e a seus princípios está fora de questão. O medo de um religioso fervoroso diante a um mundo diferente deste é bem compreensível. O ritual de conexão é muito instigante, são rezas proferidas em uníssonos que crescem de acordo com uma dança hipnótica. Realmente um deleite visual que o filme propõe. É um longa particular e para quem o assiste é necessário se despir de visões pré-definidas e preconceitos religiosos, é um olhar diferente do qual estamos habituados.
A tal da submissão é exposta, a abdicação da vida dos prazeres tem seu preço e se não conseguir ser fiel a sua crença o final disto pode ser cruel, e assim nos mostrou Muharrem. É preciso respeitar todas as crenças, mesmo que isso vá contra as suas ideias de vida. Cada um encontra seu Deus de uma forma e o nome que se dá, é irrelevante. No caso dos islãs é uma tradição impenetrável e acima de tudo uma cultura que a nós parece absurda. O homem tende a distorcer as coisas e não seria diferente com a religião.

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