quarta-feira, 10 de julho de 2013

Segredos de Sangue (Stoker)

Park Chan-wook, diretor cultuado, especialmente pelo filme "Oldboy" (2003), lança seu primeiro longa em Hollywood, o roteiro ficou por conta de Wentworth Miller, protagonista da série "Prison Break". Dá para notar a diferença entre um típico suspense americano, especificamente com as cenas não convencionais que o diretor sul-coreano adora. O roteiro carrega o clima misterioso a todo instante, mesmo quando tudo é revelado, as personagens são bem trabalhadas, desde a mãe, que anseia viver e amar, mas joga toda a sua estagnação na filha. Charlie, com seu olhar doentio, e India, a menina que floresce de uma maneira esquisita. Depois da morte de seu pai em um acidente de carro, India (Mia Wasikowska) passa a viver na companhia de sua instável mãe, vivida por Nicole Kidman, e de seu tio, Charlie (Matthew Goode), de quem ela nunca soube da existência. Mas após a sua chegada, India começa a desconfiar que esse homem misterioso e sedutor pode ter segundas intenções. Só que a solitária garota não consegue controlar os seus sentimentos e acaba se envolvendo cada vez mais com Charlie.
Toda a história é coberta por um clima de mistério envolvendo os personagens, principalmente o tio, que exerce fascínio na mãe e na filha, o desenrolar acontece rapidamente, não há enrolações, percebemos logo o que acontece na família, apenas conhecemos o porquê depois. Charlie é uma pessoa dissimulada e usa todos os artifícios para conquistar a jovem India. As suspeitas começam com o desaparecimento da empregada, então tudo vai se encaixando, como a morte do pai de India com o fato do tio aparecer repentinamente. Interessante observar as expressões de Charlie, sua maneira aparentemente elegante esconde frieza e obsessão.
"Segredos de Sangue" é um filme que explora a hereditariedade da psicopatia, uma relação em certo ponto incestuosa, recheada de crime, violência estilizada e até momentos reflexivos. É notável o trabalho de direção, fotografia, enredo e elementos utilizados, assim como os pormenores, a câmera focando nos detalhes e o mais interessante, a captura dos sons, seja da respiração ofegante, ou de algum estalido, pequenas coisas, mas que fazem enorme diferença na questão sensorial de quem o assiste.

A cena do piano sem dúvida é uma das mais belas e interessantes, é ali que India sente uma profunda ligação com Charlie e entende a química que passeia entre eles, enquanto tocam, as vibrações se complementam. O fato é que tudo tem um fundo sexual, a relação que se desenvolve entre Charlie, India e a mãe. Outra cena estranha, mas reveladora é quando a garota vê seu tio matar o cara que ela provocou, como se fosse uma presa, ela acaba tirando o corpo fora até mesmo porque não sabia o que pretendia, seu tio aparece e dá um fim nele, o mata na sua frente. E ela gosta do que vê e sente, é excitante para ela.
É preciso notar o menor ato, os olhares, os gestuais, sempre estão tentando nos dizer algo. Não é um filme excelente, não espere nada parecido com os filmes orientais de Park Chan-wook, mas também não é os convencionais suspenses americanos. Ele prima por uma fotografia paralisante e uma narrativa intrigante.

Quase no final do longa a mãe de India diz: "Já pensei muitas vezes no porquê de termos filhos. E a conclusão que cheguei é que... Em algum momento da vida, percebemos que as coisas estão ferradas e não têm conserto. Então decidimos começar de novo. Apagar a lousa. Começar do zero. E temos filhos. Cópiazinhas de carbono a quem podemos dizer: 'Você fará o que eu não pude. Vai ter sucesso onde eu falhei'. Porque queremos que alguém acerte desta vez." E dentro do contexto de sua personalidade India conserta as coisas, nos fazendo pensar que às vezes o mal é preciso para evitar o pior.

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