sexta-feira, 19 de julho de 2013

Laurence Anyways

"Laurence Anyways" (2012) é o terceiro longa de Xavier Dolan (Eu Matei Minha Mãe - 2009). Sua história é complexa, pois trata de um tema que muitos ainda não discutem e do qual nutrem preconceito. O início se dá com Laurence Alia (Melvil Poupaud) já vestido de mulher andando pelas ruas, enquanto ele caminha os olhares das pessoas o segue e dizem várias coisas, tais como, curiosidade, preconceito, estranheza, desdém, medo, etc. Tudo ao som de "If I Had a Heart" de Fever Ray. Daí o filme volta dez anos, mostrando Laurence em uma vida comum, dando aulas de literatura e com sua namorada Fred (Suzanne Clément), em um relacionamento bem divertido e ao mesmo tempo estranho. Há também uma narração em off, uma entrevista sobre a vida de Laurence.
O filme segue lento até que Laurence já não aguenta mais viver fingindo e conta para Fred que sempre teve a vontade de se vestir de mulher, que não se identificava como homem apesar de sua orientação sexual continuar a mesma. Ou seja, por fora ele queria se transvestir, sua identidade de gênero era feminina, mas sua orientação sexual continuava masculina. Para sua namorada foi um choque, mas é impressionante a maneira gradativa que vai aceitando-o, ele precisava dela para realizar a mudança, essa que foi bem aos poucos, primeiro a maquiagem, unhas pintadas e uma roupa feminina básica.
A cena em que ele se transveste pela primeira vez e vai dar aula é ótima, a forma como os alunos reagem e seu medo de ser rejeitado, tudo é mostrado perfeitamente, acho que essa cena é a única que passa o drama mais denso do personagem, o restante é o desenvolvimento e o cair de seu relacionamento com Fred, que aliás a atriz Suzanne Clément faz divinamente, ela passeia por inúmeros sentimentos em minutos, se irrita, chora, se desespera, sofre, grita, sorri, ama e odeia. A força do filme reside nessa personagem, ela retrata bem o que é ser surpreendida por alguém que ama.
Há muitas cenas que não dizem absolutamente nada, é praticamente um desfile ao som de uma trilha sonora descolada. A direção é afetada e não imprime o drama do personagem. Closes e passagens em slow motion dominam, tudo para ter uma estética cool. A ideia é genial, mas vai minguando no desenvolvimento.

O assunto principal é pouco explorado e nem todos entendem a diferença entre identidade de gênero e orientação sexual, e é disso que o filme trata afinal. Laurence não é gay, apesar de sentir necessidade de se vestir de mulher. É inevitável não se lembrar do cartunista Laerte que há algum tempo apareceu vestindo-se de mulher. A situação é parecida com o filme.
É um tema muito em voga, mas o longa ficou no seu mundinho e não deu chances a várias questões, como os direitos de ir e vir e a maneira de como a sociedade se porta diante o "diferente", poucas cenas exploram aspectos interessantes, uma delas é quando Laurence é despedido, mesmo sendo intelectualizado e inteligente para exercer sua profissão, foi preciso apenas algumas denúncias para seu cargo ser retirado, a alegação foi que estava sofrendo de demência.

O filme tem imagens deslumbrantes, cenas maravilhosas, trilha sonora perfeita, mas o roteiro fica girando e nada se define, não tem densidade e parece que fica no ar. Destaque para a atuação intensa de Suzanne Clément que garante momentos surpreendentes, como a do restaurante. Quem nunca teve vontade de mandar todo mundo tomar naquele lugar por estarem olhando torto pra você? Pois é, ela faz, sua raiva foi emergindo até que não aguentou mais, a garçonete perguntava sem parar coisas pessoais para Laurence, sendo que ela nem o conhecia, foi um show de atuação, e sem dúvida, uma das melhores cenas que querem de fato dizer alguma coisa.
"Laurence Anyways" possui muitos closes, cenas em câmera lenta que ora parecem um videoclipe pop, ora metáforas visuais, é um pouco cansativo, tem quase três horas de duração, exagerado em alguns pontos, mas super válido por sua ideia. Xavier Dolan é um jovem cineasta que está despontando por suas belas e pertinentes obras. Vale conferir! 

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