quarta-feira, 19 de junho de 2013

Therese D (Thérèse Desqueyroux)

"Thérèse Desqueyroux" (2012) foi o último filme de Claude Miller (Feliz que Minha Mãe Esteja Morta - 2009) que faleceu após esta produção em 2012. Baseado na obra homônima de François Mauriac, ganhador do prêmio Nobel em 1952, reconhecido por penetrar nos dramas humanos de forma tão intensa e verdadeira. A história é sobre uma mulher à frente de seu tempo, que não entendia sua essência por viver presa a convenções sociais. Thérèse Desqueyroux já teve uma versão feita em 1962, dirigida por Georges Franju e protagonizada por Emmanuelle Riva.
Nesta versão Thérèse é vivida por Audrey Tautou, uma mulher cheia de ideias, mas que leva uma vida enfadonha. A trama se passa em 1926, Thérèse é filha de um rico proprietário de terras, que se casa com o igualmente rico Bernard, irmão de sua melhor amiga Anne. Por convenções sociais une-se a ele para aumentar as riquezas e como ela mesma diz, para se alienar dos pensamentos que a persegue. Mas a vida é regida por uma rotina, onde o que predomina são as aparências, Thérèse se vê presa e cada vez com mais e mais pensamentos. Já sua amiga Anne e agora cunhada vive uma paixão ardente e passageira, e ela sente inveja por isso.
Como era esperado Thérèse engravida, mas o que era para ser alegria e motivação, se parece mais com um fardo. Sua individualidade é perdida, seu marido se preocupa com ela só por conta do bebê que está carregando, em dado momento ele diz: "Caminhe faz bem para o bebê", e Thérèse responde: "Quem caminha sou eu, não o bebê". São nesses momentos que percebemos o que reside nesta mulher, algo muito além daquela vida de marido e mulher, terras, pinheiros e aparências.
Thérèse é apática, carrega uma expressão sempre fechada, lábios semicerrados e demonstra muito amargor. É exatamente isso o que o filme passa, amargura, o tom é seco e nada emocional, a narrativa que se arrasta tediosamente exemplifica o drama interno da personagem.
Não vemos Thérèse demonstrar amor, o mais próximo disso é a relação que tem com Anne, da qual conhece desde pequena. O restante é puro aprisionamento de uma pessoa que não foi feita para aquele tipo de vida. De certo modo, Thérèse é orgulhosa e soberba, ela não titubeou em nenhum momento quando foi proposto o casamento para aumentar as riquezas.

Cansada da rotina que executa automaticamente, decide conseguir sua liberdade com um ato impensado. Seu marido a irrita em detalhes e repetições, principalmente com o seu método de contar as gotas de seu remédio, e é assim que Thérèse tenta se livrar da vida que a rodeia, colocando gotas a mais do remédio no copo com água de seu marido, mas não dá certo, no que desencadeia uma situação onde a hipocrisia reina. 
A degradação da personagem é incrível, enclausurada em um quarto por causa do que fez, ela segue seus dias fumando desesperadamente e emagrecendo rapidamente. Até que mais uma vez as convenções sociais são necessárias e ela se vê obrigada a aparecer com o marido para receber o noivo de Anne. Inconformado com a situação de Thérèse, Bernard começa a compreender talvez, que ela não é uma mulher comum.

"Thérèse Desqueyroux" tende a passar despercebido justamente por conta da sua falta de simpatia, mas é válido em mostrar que um ser pensante precisa ser livre e até solitário.
O filme é trabalhado nos diálogos e nos pensamentos dessa mulher que se sentia alheia a tudo. Nem ela mesma sabia o que acontecia dentro de si, porque o meio em que vivia era tão pequeno que não dava asas para suas ideias. "Thérèse Desqueyroux" é seco, introspectivo, e realça muito a vontade de ler o livro de Mauriac.

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