segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tipo Ruim / Bad Guy / Nabbeun Namja

Kim Ki-Duk consegue expôr de forma poética o lado não muito agradável do ser humano, e em "Bad Guy" (2001) ele faz exatamente isso, retrata a figura de um sujeito que nada tem de bom a dar, mas que de alguma maneira simpatizamos com ele, talvez seja pelo seu olhar e seu silêncio constante.
Sun-hwa (Seo Won) de repente é abordada por um estranho quando esperava seu namorado, e o cara a beija a força na frente de todos. Este impulso o fez ser humilhado e espancado, Sun-hwa cospe na cara dele e o xinga e o manda pedir desculpas, mas mal sabe ela que essa atitude lhe custará muito caro. Han-ki (Jo Jae-hyeon) é um tipo ruim, cafetão resolve fazer da virgem Sun-hwa uma garota de programa. Han-ki desenvolveu uma paixão obsessiva e violenta pela garota e fará qualquer coisa para tê-la. Um dia Sun-hwa rouba uma página de um livro de arte e encontra uma carteira perdida ao lado do livro. O roubo da página e posteriormente da carteira marca o início do abismo da jovem. Han-ki denuncia ao dono da carteira o assalto e este obriga-a recorrer a um agiota para pagar os estragos que causou. E a maneira que ela pagará o empréstimo será se prostituindo.
Somos arrastados a um mundo onde a violência e o sexo é o cotidiano. De início Sun-hwa somente chora por ter perdido sua vida, resiste em fazer sexo com os clientes, mas com o passar do tempo percebe que pode usar de seu charme e beleza, e então começa a viver aquele mundo. E o mais absurdo, nutrir algum tipo de sentimento por aquele que a desgraçou. De certa forma somos voyeurs, a relação que se torna essencialmente perturbadora aos nossos olhos, parece fazer cada vez mais sentido a eles.

"Bad Guy" é um drama que segue a linha de uma paixão nada convencional, e nos instiga a pensar o porque dos personagens agirem de tal forma. Sun-hwa em determinado momento parece se conformar com a situação que se encontra e a gostar do cara mau, querendo ou não, ali ele é o único a sentir algo por ela, mesmo não expondo, pois seus gestos na maioria das vezes são agressivos, mas interessante observar que demora para Han-ki consumar o ato sexual com Sun-hwa, talvez uma espécie de punição a ele mesmo, já que no fundo sabe que fez algo terrível.
Algumas cenas são carregadas de simbolismos, como a da praia onde ela vê uma garota indo para o mar cometer suicídio, e onde encontra uma foto rasgada faltando os rostos das pessoas, e mais tarde descobrimos que era a de Han-ki e Sun-hwa, não se sabe exatamente o que o diretor quis passar com essa cena, mas a mim parece que o destino daquela garota era estar com Han-ki, mesmo sendo uma paixão torta e perturbada; e a menina entrando no mar é o vislumbre dela mesma, pois se ela não aceitar toda a situação que se encontra, sua única alternativa é se matar. E é a partir desta cena que seus sentimentos começam a mudar em relação ao mundo que agora faz parte. A foto que ela encontra rasgada e tenta consertar, simboliza que está reorganizando e juntando os cacos interiores de si mesma.
"Bad Guy" é um filme seco, mas completamente poético, a trilha sonora é algo interessante e complementa com o ambiente vulgar.

Ficamos atordoados à medida que a garota aceita sua condição e se submete ao estranho amor de Han-ki. O final nos deixa literalmente de boca aberta, o silêncio do personagem é perturbador e ficamos confusos o filme todo ao tentar decidir o que sentir por aquele homem, que ora parece ser um alguém desprotegido que precisa desesperadamente de carinho, ora um sujeito totalmente sem escrúpulos que é capaz de tudo. Em um mundo onde não há regras, matar ou morrer é algo comum. A cena em que ele vai preso e Sun-hwa vai a prisão dizer que quer que ele saia logo é onde percebemos que de fato ela nunca mais voltará a sua vida normal, tanto que ele a liberta, mas acaba voltando e se submetendo o que a nós parece um absurdo sem tamanho. Ao final o único sentimento deixado é o de interrogação, ficamos nos perguntando o porquê ela voltou para um amor que machuca e destrói?
O amor pode nascer em qualquer lugar e de diversas formas, ele não segue regras ou padrões e se desenvolve à maneira de cada um.

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