terça-feira, 27 de novembro de 2012

Polissia (Polisse)

A pedofilia é o tema do filme "Polisse", que retrata as atividades da Brigada de Proteção de Menores em Paris, e nos traz de forma muito realista diversas histórias de crianças que sofreram abusos de adultos, dos quais a maioria são da família. O tom do longa chega perto a de um documentário, a diretora Maiwenn, que também interpreta uma fotógrafa, acompanhou esta corporação francesa (BPM), por meses e trouxe os casos que vivenciou para o roteiro que escreveu junto com Emmanuelle Bercot. A rotina dos policiais que lidam com esses casos é totalmente desgastante, ainda mais quando o acúmulo de ocorrências condenáveis só aumentam e alguns não se finalizam, esses policiais lidam com o pior do ser humano. O ritmo do longa contribui ferozmente para o sentimento de asco que nos toma a cada história revelada. Logo no início vemos uma declaração de uma menina que é digno de revolta.
A grafia errada é proposital, pelo fato de estarem lidando com crianças e geralmente elas escrevem como escutam, Polisse e não Police que é o correto. Além das macabras histórias que passeiam desde o abuso de um pai para filho, de um avô para com um neto, professor e aluno, pais que prostituem seus próprios filhos, e vai até adolescentes de 14 anos que não tem limites, se vendem na internet, mostrando seus corpos, ou adolescentes que são violentados, o longa mostra também a vida pessoal desses policiais, relacionamentos, a inquietação constante, a perda de controle, e momentos de descontração, mas que não são suficiente para evitar as consequências emocionais que o ofício traz as suas vidas particulares. Os personagens vivem vidas e relacionamentos conturbados. Fred é o que mais leva para o lado pessoal e um exemplo disso é no modo como defende uma criança abandonada; outro foco importante na vida dessas pessoas é a de Nadine, que reluta a se divorciar do marido, mas a feminista Iris demonstra firmeza ao aconselhar a colega a se separar, esta por sua vez, esconde uma frustração que é revelada indiretamente por meio do plano mais chocante do filme.
De início não nos apegamos a um personagem, são muitos e é difícil se acostumar com o ritmo, mas logo somos apresentados a dupla principal, Fred (Joey Starr) e a fotógrafa Melissa (interpretada pela diretora Maiwenn). Vemos acontecer um relacionamento aos poucos, pois cada um deles têm as suas dificuldades, porém com o dia a dia se aproximam mais. As cenas mais impactantes são as de pedófilos que tentam minimizar a importância de seus desvios sexuais, o que provoca a revolta dos policiais. Alguns com poder aquisitivo zombam deles, dizendo que nunca ficarão presos, e mostra o lado mais frágil desta corporação.

Um outro ponto chocante é quando a criança gosta de seu agressor, na mente dela é carinho. Isso é mostrado sutilmente e as cenas são apenas sugeridas, mas mesmo assim é impressionante. De certa forma aquilo tudo que os policiais vivenciam é um verdadeiro caos, uma total falta de controle diante a tantos casos. O ponto forte do filme não é a vida desses policiais, é sem sombra de dúvidas os depoimentos das crianças e dos pedófilos.
"Polisse" é sincero ao lidar com um assunto tão difícil, principalmente, quando mostra pessoas que não seriam suspeitas de tais atos absurdos, pessoas com um bom trabalho, pais de família que passariam despercebidos entre tantas outras que julgamos apenas pela aparência.

Maldade não tem cara, não tem posição social, e nem nível de escolaridade. Ela está mascarada em nossa sociedade. Às vezes um desfecho feliz para casos de pedofilia não acontece por vários motivos, mas como no final, há esperança, mesmo que apenas alguns casos sejam solucionados. O importante é lutar contra este tipo de pessoas que acham natural, ou que por pura perversão abusam de crianças.
"Polisse" é um filme sério, sensível, e que vale a pena ser conferido, serve para nos alertar, pois sempre é válido assistir obras que nos informem e que gerem discussões.

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