quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O Milagre de Anne Sullivan (The Miracle Worker)

"O Milagre de Anne Sullivan" (1962) é um filme esquecido no tempo, mas de grande relevância em seu conteúdo. Uma lição para toda a vida. Grandioso e de uma carga emocional raramente vista no cinema. E isso se deve as atrizes Anne Bancroft e Patty Duke completamente devotadas a suas personagens.
Baseado no livro autobiográfico "The Story of my Life" de Helen Keller, "O Milagre de Anne Sullivan" é um grande clássico do cinema americano. Realizado pelo cineasta Arthur Penn, o filme é comovente e retrata a luta pela vida, nesse caso, contra a adversidade. Em 1887, no Alabama, a jovem Helen Keller, cega, surda e muda desde a infância, devido a uma congestão cerebral, está a ponto de ser enviada para uma instituição especializada em doentes mentais. Sua falta de habilidade para se comunicar a deixou frustrada e violenta. Desesperados, seus pais procuram ajuda junto ao Perkins Institute, de Boston, que lhes encaminha a jovem Anne Sullivan para ser tutora de sua filha. Anne acabara de concluir seu curso, de modo que Helen será sua primeira aluna. Em sua incansável tarefa para tentar fazer com que Helen se adapte e entenda, pelo menos em parte, o mundo que a cerca, Anne não se mostra condescendente nem a trata como uma pessoa deficiente. Com essa atitude e determinação, entra muitas vezes em confronto com os pais de Helen, que sempre sentiram pena da filha e a mimaram. Por várias vezes, o pai a ameaça de mandá-la embora. A situação chega a tal ponto que Anne diz que, para seu trabalho apresentar bons resultados é preciso que ela e a menina passem a morar sozinhas numa outra casa da família.
Os pais de Helen não a ensinaram a se comportar, nem nada, era realmente um bichinho selvagem, Anne tem toda a paciência, mesmo sendo ríspida e não demonstrando amor, inclusive várias cenas é como se estivesse domesticando um animal, com lutas corporais de cansar o espectador. Anne precisava ensinar Helen comer do próprio prato, com talheres e dobrar seu guardanapo, a maneira grossa de ensiná-la fez a menina pegar ódio de Anne, e a reaproximação levou um certo tempo. Helen não sabia absolutamente nada, não tinha ideia de mundo, quando ensinado a linguagem de surdos e mudos, Helen tocava as mãos de Anne e imitava-os, mas ela não tinha noção do que aquelas palavras significavam. A cegueira mental de Helen era o seu maior problema.

É evidente que conquistar a confiança de um aluno pela afetividade é mil vezes melhor do que pela rigidez, mas no caso de Helen, que era muito mimada pelos pais, tratada com piedade, não era exatamente por esse caminho que ela iria aprender algo.
Anne teve um caminho difícil até ali, órfã foi mandada para uma casa de deficientes quando criança, onde morou por muitos anos. Essa experiência foi extremamente marcante em sua vida. Anne Sullivan conseguiu estudar, formar-se e tornou-se uma referência no ensino de pessoas com deficiência, ela nunca se deparou com um laço afetivo, e isso foi crucial no método que adotou. A disciplina era ponto fundamental, porém ela sabia que a obediência não era suficiente. Era preciso muito mais. A ideia de estar no mundo. De saber estar presente nele. A gratidão ao final exposta pela garota por Anne ter tirado a venda dos seus olhos e ter descoberto as belezas da vida é muito bonito. Quando ela conseguiu associar palavras a seus significados, foi o milagre. Ela tocando a água desesperadamente entendendo que aquilo era água, a terra era terra, a árvore era árvore. É extremamente emocionante, de uma beleza sensorial magnânima.

Quando crianças começamos a descobrir as palavras, associando-as vem o deslumbramento diante o mundo, perdemos isso com o tempo, pela falta de interesse por ele, sem ao menos nos darmos conta que este mundo nos chama para que o conheçamos mais e mais. O impactar-se, emocionar-se com nossas experiências, sentir a essência da vida. Por isso, esse filme é tão especial, não só didaticamente, mas filosoficamente, por falar da vida e de seus esplendores. É triste saber que um filme desse está esquecido no tempo, assim como nossos deslumbramentos perante a vida.
"O Milagre de Anne Sullivan" tem um enorme valor social. Helen Keller é muito mais que uma história de superação, ela demonstra esperança e humanidade, saída da escuridão total para se tornar uma pessoa exemplar. Helen se tornou escritora, com um diploma de bacharel em artes, lutou pelo voto feminino e pelos trabalhadores e deficientes. Ela morreu em 1968.
É muito importante que trabalhemos a nossa linguagem e a comunicação, pois só assim nos conheceremos plenamente gerando liberdade e amplitude. Há tanto para se aprender, para se resgatar e sentir. Pena que a maioria dos seres humanos pareçam apenas animais domesticados sem entender direito o que representa para si e para o mundo.

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