sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Ferrugem e Osso (De Rouille et D'os)

O recomeçar, o refazer-se é terrível, quando tudo desmorona buscar forças não é uma coisa fácil, "Ferrugem e Osso" trata disso, mas sem ser melodramático, é honesto, seco e até cruel. Alain (Matthias Schoenaerts) está desempregado e vive com o filho de apenas cinco anos. Ele parte para a casa da irmã em busca de ajuda e logo consegue um emprego como segurança de boate. Um dia, ao apartar uma confusão, ele conhece Stéphanie (Marion Cotillard), uma bela treinadora de orcas. Alain a leva em casa e deixa seu cartão com ela, caso precise de algum serviço. O que eles não esperavam era que, pouco tempo depois, Stéphanie sofreria um grave acidente que mudaria sua vida para sempre. Eles voltam a se encontrar em circunstâncias bem diferentes: ele envolvido em lutas de ruas para ganhar dinheiro, e ela cuja duas pernas foram perdidas em um acidente com um dos animais de seu show.
Depois de se tornarem amigos eles acabam se envolvendo romanticamente, apesar da resistência dele em assumir compromissos. Marion Cotillard se entrega à uma personagem que enfrenta o dilema de se conhecer na sua nova situação, no início triste, vazia, encontra em Alain uma amizade da qual a fará sentir-se viva novamente. Alain é um homem que alterna entre violento, bem-humorado e terno, sua reviravolta se dá no fim, quando quase perde seu menino de 5 anos, nesse momento ele percebe o quanto estava sendo relapso com o filho, e o faz perceber as coisas a sua volta. A história mostra desespero e angústia com muita sensibilidade. É um amor diferente em que o mundos dos personagens estão completamente destruídos, juntos eles podem consertá-lo, mesmo que demorem para perceberem o sentimento de cada um. Alain sempre está disposto a ajudar Stéphanie, inclusive a leva nas brigas em que se envolve para ganhar dinheiro. A cena da praia em que mergulha no mar, na qual ela sente o sol no rosto depois de muito tempo fechada é fascinante. Quando ela se redescobre como mulher, amada por Alain, a amizade vai se transformando em amor, da maneira deles, sem cobranças, um amor que nasce naturalmente, onde eles se completam da forma que são.

Em certo momento Stéphanie pede mais delicadeza da parte de Alain, este que é rodeado de violência e necessita colocá-la para fora em brigas de rua. Os dois vão se descobrindo e se revelando aos poucos um para o outro, isso até que um sinta que precisa do outro para suportar seus mundos. Marion Cotillard revela força e sensibilidade, seus olhares são significativos e representam seus sentimentos, tanto a depressão como o desejo que sente por Alain. As cenas de sexo se dão de forma natural e se encaixam perfeitamente no contexto. A redenção de Alain não se faz por conta dos acontecimentos na vida de Stéphanie ou do que ele viveu, mas sim por causa de um acidente com seu filho, é algo que acontece rapidamente e que o faz repensar suas atitudes. Ao contrário de Stéphanie que foi aos poucos se adaptando, inclusive com as próteses que mais tarde começa a usar.
Histórias de redenção, superação, redescobertas e amores improváveis soam um tanto piegas, geralmente Hollywood as retrata de maneira feliz, mas esse drama franco-belga chega bem perto do real.

Nem tudo dá certo, nem tudo é poesia, e nem sempre há uma bela trilha sonora nos acompanhando. As tragédias acontecem e não é qualquer um que consegue suportar, principalmente aqueles que nos rodeiam, poucos são os que ficam, a força vem naturalmente, e geralmente quando estamos passando por algo complicado nos apegamos a pessoas complicadas também, talvez afim de compartilhar, e mesmo sem saber ajudamos um ao outro.
Muito bonita a cena em que ela volta ao local de seu trabalho e pelo vidro faz as pazes com a causadora de sua tragédia. A orca segue os movimentos de suas mãos e inevitavelmente Stéphanie sente-se feliz. Sem melodramas, apesar do longa se apoiar em tragédias, a história se faz crua sem ser chocante, simples, mas com personagens complicados, ambíguos e humanos.

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