segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón

[...] Ou talvez devesse dizer: o livro me adotaria. Ele se destacava timidamente no canto de uma estante, encadernado numa capa cor de vinho e sussurrando seu título em letras douradas que brilhavam na luz vinda da cúpula no alto. Aproximei-me dele e acariciei as palavras com as pontas dos dedos, lendo em silêncio: A Sombra do Vento - Julián Carax.

Daniel Sempere é um menino de 10 anos, que vive na Barcelona de 1945, pós-segunda guerra. Ainda sobre o clima pesado do fim da guerra, é apresentado por seu pai, ao dono de um sebo importante de Barcelona, "O Cemitério dos Livros Esquecidos", lugar meio mágico, onde estão exemplares de livros abandonados. Este lugar tem um ritual: A primeira vez que alguém o visita, escolhe um livro, aquele que preferir, e que o adote, garantindo assim que nunca desapareça, que se mantenha vivo para sempre. Nessa visita, um tanto quanto ritualista e apaixonante para amantes de livros, Daniel se vê escolhido por uma obra em especial, "A Sombra do Vento", de Julián Carax. Este livro amaldiçoado, mudará o rumo de sua vida e o arrastará por um labirinto de mistérios, segredos, personagens enigmáticos e romance. Ao se ver fascinado pelo escritor desconhecido, Daniel começa uma busca inocente por maiores informações sobre o autor. E descobre que este promissor escritor teve uma vida cheia de desgraças, sendo dado como morto em circunstâncias suspeitas.
Com isso se envolve numa trama que tenta encontrar novos exemplares do autor e descobrir sua biografia. Nesse meio tempo conhece Clara, com quem vive seu primeiro romance inocente e pré-adolescente, mas que lhe causa grande decepção. Depois, conhece Fermin a quem tira da sarjeta e que se torna seu grande amigo. Enfrenta a fúria, o sadismo e o medo de Fumero, e por fim se realiza através do amor de Bea. A vida do autor desconhecido e a sua própria parece se entrelaçar de forma mágica e paralela, coincidentemente num ambiente fascinante de Barcelona onde Daniel percorre as praças, cafés do mundo gótico, as Ramblas e o Tibidabo, adentrando nos mistérios e segredos mais obscuros desta cidade.

"Enquanto percorria túneis e túneis de livros na penumbra, não pude evitar que me invadisse uma sensação de tristeza e desânimo. Não podia evitar pensar que se eu, por puro acaso, tinha descoberto todo um universo num só livro desconhecido na infinidade daquela necrópole, dezenas de milhares de outros livros ficariam inexplorados, esquecidos para sempre. Senti-me rodeado por milhares de páginas abandonadas, de universos e almas sem dono, que se fundiam em um oceano de escuridão enquanto o mundo que palpitava do lado de fora daquelas paredes perdia a memória sem perceber, dia após dia, sentindo-se mais sábio quanto mais esquecia."

"A Sombra do Vento" tem uma narrativa de ritmo eletrizante, escrita em uma prosa ora poética, ora irônica. O enredo mistura gêneros, como o romance de aventuras de Alexandre Dumas, a novela gótica de Edgar Allan Poe e os folhetins amorosos de Victor Hugo. Ambientado na Barcelona franquista da primeira metade do século XX, entre os últimos raios de luz do modernismo e as trevas do pós-guerra, o romance de Zafón é uma obra sedutora, comovente e impossível de largar. Além de ser uma grandiosa homenagem ao poder místico dos livros, é um verdadeiro triunfo da arte de contar histórias.
Um livro sobre paixão, paixão aos livros, e quer romance mais gostoso do que se envolver nas histórias contadas por eles? Em "A Sombra do Vento", Zafón nos envolve nessa paixão, misturando aventura, mistério, romance e literatura, uma declaração de amor aos livros que invadem nossa imaginação, nos trazendo tantos conhecimentos, nos tirando da mesmice de sempre e nos abrindo novos horizontes. A história e os personagens ficam gravados na memória, o autor consegue de forma arrebatadora fazer com que uma sensação agradável apareça toda vez que lembramos desse magnífico livro.

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