segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O Cheiro do Ralo

Dirigido por Heitor Dhalia e adaptado da obra homônima de Lourenço Mutarelli, este longa decisivamente tem uma aura fétida. Selton Mello interpreta Lourenço, um homem repugnante, solitário, que trabalha na compra e venda de objetos nada úteis, ele utiliza o método de barganha com as pessoas, acredita que tudo tem um preço, inclusive a bunda de uma garçonete de quinta, ele simplesmente fica obcecado pela mulher, mas unicamente por aquela bunda. O personagem de Selton Mello é sarcástico, ele humilha as pessoas, utiliza seu poder para coisificar tudo ao seu redor, a aspereza do personagem é engraçada, porém o filme não é nada agradável. A principal provocação é em torno do vício, a busca insaciável pelo poder em torno do dinheiro.
O cheiro que vem do ralo do banheirinho do lugar onde trabalha a princípio o incomodava, sempre alertando que o fedor vinha de lá, e às vezes a pessoa nem estava sentindo, ou não estava preocupada com o cheiro, mas toda vez ele repetia isso às pessoas. Até que um cliente humilhado por Lourenço, respondeu que o cheiro de merda não vinha do banheiro, e sim de Lourenço, pois quem o usava era somente ele, então ele fedia. Isso o atordoou e o fez ficar mais neurótico. Lourenço se sentia poderoso, porque aquelas pessoas sempre precisavam de dinheiro, levavam objetos cada vez mais sem sentido, principalmente uma viciada, que tem papel fundamental no desfecho do filme. Ela é humilhada, usada, tudo porque necessita de dinheiro para saciar seu vício.

O filme tem um roteiro super inteligente, e contém cenas incríveis, como a que Lourenço senta no sofá com o segurança que trabalha para ele e começa a falar sobre o conforto, que o ser humano criou coisas maravilhosas e tal, mas aí o segurança rebate e diz que o homem também fez e faz coisas ruins, o lixo, por exemplo. Mas Lourenço responde que o lixo é o troco, para ocupar um bando que não está nem aí pro conforto. Lourenço é um ser humano totalmente neurótico, e fica obcecado por um olho de vidro que comprou, e através dele inventa histórias sobre um pai que morreu na guerra. Na verdade, o personagem é um coitado e não tem poder nenhum. Ele mora em um cubículo todo desarrumado, não consegue criar laços e nunca gostou de ninguém de verdade, resumo de uma vida triste e enfadonha. 
O ralo é uma analogia perfeita para a vida nojenta de Lourenço, desde os objetos sem função que compra e vende, as pessoas que o rodeia, e o sentido de sua vida. É um filme frio, que retrata um ser humano sem escrúpulos e repleto de vícios. Lourenço não consegue se desfazer daquele fedor, pois a vida dele fede, ou seja, o cheiro do ralo que vem do banheirinho faz parte dele, é ele, como o personagem que queria vender o violino disse no começo do filme.

Com uma boa dose de humor negro e um universo de podridão que o permeia, faz ser um filme único e digno. Esse é um exemplo de filme nacional muito bem elaborado, inteligente mas sem soar intelectual.
Há muitas pessoas que não tem um gato para puxar pelo rabo, como diz o velho ditado, e ainda assim querem diminuir o próximo achando que é grande coisa.

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