terça-feira, 10 de julho de 2012

A História Secreta, de Donna Tartt

Em "A História Secreta" os eventos se desdobram grandiosos e inexoráveis, como em uma tragédia grega, Donna Tartt surpreende pelo talento com que combina a densidade psicológica e o vigor poético de um texto clássico, com uma trama complexa em um ritmo alucinado dos melhores romances policiais contemporâneos. Quem conta a história é Richard Papen, garotão da ensolarada Califórnia que consegue ser admitido na seleta Hampden, uma universidade em Vermont frequentada pela elite norte-americana. Richard imagina ter atingido o Olimpo ao entrar para o currículo mais privilegiado daquela universidade. Cinco alunos, sofisticados e originais, selecionados por um mestre erudito e carismático, dedicam-se ao estudo da Grécia antiga. A eles junta-se o narrador, para participar da busca da verdade e da beleza, entre festas orgiásticas e finais de semana numa antiga casa de campo, regados a muito álcool e discussões filosóficas. A loucura desmedida certa vez termina numa orgia cujo ponto culminante é um ato de violência inominável e o suposto aparecimento do próprio Deus Dionísio (Deus do Vinho), numa de suas diversas manifestações.
Quando descobre a terrível verdade, Richard envolve-se numa cadeia de segredos e cumplicidades, e num encadeamento de medos e inseguranças que leva o grupo a cometer um ato ainda mais terrível, capaz de abrir as portas para o mundo das sombras, o Hades das narrativas de Homero cuja, Henry e seus amigos tanto admiram.
"A História Secreta" cativa desde a primeira linha e nos leva as profundezas da mente de jovens ingênuos, arrogantes e mimados. Melancólico e irônico, este é um romance feito de terror e prazer, remorso e decepção. Com ele, Donna Tartt revelou-se uma grande escritora já em seu livro de estreia. Com suas setecentas páginas é um livro que se lê de maneira agradável, cheio de suspense e mistério. No entanto, não pense que é uma leitura inócua, o tema abordado é inquietante e deixa-nos a refletir sobre a facilidade com que se comete um crime e sobre as consequências que um ato criminoso acaba por ter na vida de um ser humano. São personagens que surgem do escuro, aparecem repentinamente de lado nenhum, fazem perguntas embaraçosas, desaparecem em momentos críticos e respondem sempre de uma forma enganadora. Seja em gestos, palavras, olhares desviados ou insinuações sibilinas; tudo serve para enfatizar o mal-estar generalizado, a frieza e a desconfiança.

Um estudo do remorso e seus efeitos na mente do homem "bom" que mata, "A História Secreta" é um livro comovente e profundo. Como Thriller é um dos melhores que li, e como romance é realmente espantoso. Donna Tartt vai muito além da conhecida combinação de sexo, drogas e rock'n roll: ela mergulha tão fundo quanto qualquer tragédia grega no desespero e na decepção humana.
A leitura de "A História Secreta" me fez recordar de um dos personagens mais incríveis do mundo literário: Raskólnikov, de "Crime e Castigo", de Fiódor Dostoiévski. De fato encontrei muito de Raskólnikov em Henry, mas também em Camilla, Charles, Francis e Richard. Li por duas vezes este livro e de certo modo me fascina aquele mundo tão absurdo e tão real, pois observa-se o que há de mais negro na alma humana. O que somos capazes de fazer com o outro para nos livrar de algo sórdido?

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